Encontram-se disponíveis em formato digital no site do Diário de Noticias (DN) vários contos de autores portugueses em formato digital gratuitos, basta apenas registar-se e fazer o respectivo download.
Apresento a minha opinião sobre aqueles que vou lendo. Esta primeira fase contempla um grupo de cinco contos .
Afonso Cruz – A queda de um anjo
Sinopse: Uma octogenária descontente com o Paraíso, pois não
tem junto a si a pessoa que mais ama, decide viajar para o Inferno. Para ela, o
Paraíso pode ser infernal e, ao contrário, o Inferno poderá ser uma fonte de
felicidade.
Primeira obra que leio deste autor e gostei muito. A escrita
simples e cuidada, transmite-nos as sensações, as emoções da personagem,
levando-nos a criar um elo de ligação com ela.
A descida ao Inferno através de sete patamares, á procura da
pessoa que ama e da qual não quer estar separada, é vivida através de
recordações do tempo em que a vida era sempre a dois, coisas simples e banais
são recordadas com carinho e emoção. O autor consegue levar-nos a percorrer
estas etapas criando uma empatia com a personagem.
Um texto divertido desde
o sétimo andar até ao r/c terminando de uma forma inesperada e que nos
leva de novo ao sétimo para repensar toda uma vida da personagem.
Recomendo a sua leitura e quanto a mim, vou querer ler sem qualquer
dúvida mais obras deste escritor que já me tinha sido recomendado,
anteriormente, por um amigo.
Nota: 4,5/5
João Barreiros – A
Mina do Deus Morto
Sinopse : Algures nos anos sessenta do século passado, num
universo que não é o nosso, mil metros abaixo das colheitas de volfrâmio nas
Minas da Panasqueira realizadas pela companhia Beralt in Wolfram, existem
outras minas, secretas, terríveis, brutais, onde se recolhe grão a grão as
partículas que provam a existência e a agonia final de Deus: as Minas do Deus
Morto.
Uma vez mais, as partículas divinas ou as partículas de Deus
surgem como algo demasiadamente ambicionado pelo Homem. Neste conto, elas
constituem pequeníssimos resquícios de pó de um Deus que morreu “há vinte e cinco biliões de anos, pela hora
do chá”.
Numa Europa globalizada, dominada pela Alemanha, o ser
humano vê-se reduzido a ser dominado pela tecnologia que lhe retira todas as
suas faculdades mentais, dia após dia, ano após ano. Só quando desce ás
profundezas da mina, em contacto indirecto com as partículas divinas, ele
recupera as suas faculdades, os seus sonhos, que se vão no momento em que ele
regressa á superfície.
Os temas abordados, não são novidades, as partículas de
Deus, a perca de identidade dos pequenos
países europeus, transformação tecnológica que nos transforma em robots e a descida ao abismo para encontrar de novo a nossa “alma”, os nossos
sonhos. No entanto a escrita, não sendo
simples, conseguiu prender-me e levar-me a ler com agrado todo o conto.
O final deixou-me a pensar em quantas vezes, nós passamos a
vida a sonhar com algo, mas que completamente absorvidos pela sociedade e pelo
progresso, não conseguimos concretiza-lo. Não sei se era essa a intenção do
autor, mas foi o que em mim ficou.
Sem ser um conto excelente, é bom e recomendo. Fiquei
curiosa em ler mais deste autor.
Nota 3/5
David Soares – No muro
Sinopse : No Muro é um conto que reflete sobre a finitude do
conhecimento, através de um não-leitor que herda a coleção de livros do pai.
Encontramo-nos quando achamos livros e perdemo-nos quando os esquecemos.
Nunca tinha lido nada deste autor, apesar de já ter ouvido
falar bastante dele. Com este conto não fiquei com vontade de ler outras obras
dele.
Uma escrita demasiadamente complicada, utilizando palavras
completamente desconhecidas para a grande maioria dos leitores que acabam por
criar obstáculos á continuidade da história.
Para mim um escritor deve criar um elo com um leitor, deve
escrever de forma a cativar e a aproximar-se do publico que procura nas suas obras
uma história que o prenda e que o faça integrar-se nos seus meandros. Neste
conto isso não acontece, na minha opinião, o leitor perde-se na linguagem, procura avançar para tropeçar
logo em seguida novamente.
A história que tem um bom início, o encontro da biblioteca
do pai, se bem que por um motivo mais materialista, acaba por cativar o filho a
conhecer o mundo dos livros, as suas histórias, a conhecer também um pouco
mais do seu pai. Ler e perceber o valor
que ali tem, leva-o no entanto a tomar uma medida que acaba por contrariar esta
sua descoberta. Ou seja esconde os livros de tal forma que nunca mais os poderá
folhear, o que para quem descobre o gosto pela leitura, parece-me um pouco
estranho.
Ma o que me leva a não gostar deste conto, é mesmo a escrita
demasiadamente complexa, sem qualquer necessidade de o ser.
Nota: 2/5
Mário Carvalho – A porrada
Sinopse: Um bom amigo, de estirpes vetustas, fundadoras da
Pátria, ou lá perto, contou-me que um fidalgo seu familiar, em certas noites,
saía de casa só para a pancadaria.
Conto muito pobre. A história, se é que há história, gira em
volta de um casal, da aristocracia portuguesa, em que todas as quintas-feiras,
o marido sai de casa para passar um serão entre bebida e pancadaria. Não se
entende muito bem o porquê, nem se desenvolve nenhuma ideia no texto.
Esperava mais de um escritor que já conheço e do qual já li
várias obras: “Um Deus passeando pela
Brisa da Tarde” , “A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho” e “Contos
vagabundos”.
Para quem não conhece
as obras de Mário Carvalho, espero que não se fique por este conto que não
recomendo.
Nota : 2/5
Patrícia
Portela - Monólogo do Oriente
Sinopse: Era um sonho que eu tinha, ir à Escócia com a Elsa,
íamos os dois de carro, atravessávamos o canal, apanhávamos um ferry, e depois
outro, íamos juntos, a Elsa também tinha uma cena com a Escócia, falávamos os
dois inglês, e íamos juntos, no verão, já estava tudo combinado, chegávamos lá
no dia 8 de agosto, no dia do meu aniversário (...) mas depois, em maio, a Elsa
acabou comigo depois de 12 anos juntos, saiu de casa, disse que estava confusa
e que não se conseguia decidir e que por isso se ia embora. Nunca mais a vi.
Uma autora que não conhecia, um conto engraçado e
divertido. É verdadeiramente um monólogo,
daqueles em que o nosso pensamento salta sucessivamente de problema em
problema, sem parar de ritmo ou sem pausas pelo meio.
Muito real, leva-nos a pensar quantas vezes desejamos algo e
que depois os nossos pensamentos nos levam a questionar tudo e acabamos por
resolver algo completamente diferente da ideia inicial. A ansiedade, a
hesitação, o medo do desconhecido levam a que as ideias se percam, e que os
sonhos nunca se concretizem.
A escrita é fluida como é o pensamento, simples e directa.
Recomendo.
Nota : 3,8/5