sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

As Regras de Verão de Shaun Tan

É verdade que tenho estado um bocado ausente e muitos livros esperam calmamente, ali encostados numa pilha, que eu escreva algumas linhas sobre eles. 

Pois bem, a fase de ausência está afastada e começo por um dos meus escritores/ ilustradores favoritos. Já aqui dediquei uma semana a ele, comentando diariamente cada um dos seus livros que eu tinha e agora regresso a ele com o seu mais recente livro editado em Portugal.





“As Regras do Verão” de Shaun Tan


Talvez as saudades dos dias quentes e solarengos do Verão fizeram com que escolhesse este livro, no meio da pilha.

Quantos de nós não teve já aquela sensação de que o ano começava verdadeiramente após o Verão? Após as férias, onde tudo acontecia, onde crescíamos muito mais em crianças e onde o inicio pós férias grandes era a grande etapa que só culminaria no próximo Verão?

Pois é com este espírito que me chegou a mensagem que Shaun Tan quis passar com estas “regras de Verão”. 




Uma história de cumplicidade entre dois irmãos, sempre presentes, onde o mais velho vai protegendo e auxiliando o mais novo e ditando-lhe as regras pelas quais passa o seu crescimento, tal como aconteceu com ele no ano anterior.














“Foi isto o que aprendi no verão passado: “





Assim começa o autor. As regras surgem, uma a uma, como que certezas nesse mundo onde todos mergulhámos um dia enquanto crescemos. Nesse espaço temporal, onde existe um vaivém de incertezas e de perguntas que não são respondidas e que nos levam a questionar : “mas porquê?” e em que as respostas são quase sempre: “porque sim!”

“Nunca quebres as regras. Sobretudo se não as compreendes.”

Página a página, elas desfilam perante os nossos olhos como inabaláveis. As imagens são marcantes, como avisos gigantes do perigo em que ocorremos se as quebramos!



Algumas são regras que pertencem ao bom senso e com as quais temos de aprender a viver e que são claramente óbvias na linguagem do autor.
















“Nunca dês as tuas chaves a um estranho.”



Outras, porém, são bastante mais liminares e como que fazem parte de um conjunto de situações instituídas pela sociedade em que vivemos.











“Nunca comas a última azeitona numa festa.”




Outras são o reflexo de algo superior, de algo que tem poder. Um poder paternal, ou judicial…


“Nunca discutas com um árbitro.”

ou o cuidado com os mais frágeis, os mais simples, a natureza....


"Nunca pises um caracol."

ou mesmo um poder por si só, mesmo que não se compreenda …

“Nunca perguntes o porquê.”

Um mundo próprio do autor passa através dos seus desenhos. As personagens já nossas conhecidas: animais gigantescos que deambulam pelas ruas estreitas, figuras mecanizadas vivas e inertes que interagem com as crianças. O fantástico aliado ao realismo de um mundo onde as regras são mesmo para cumprir, mesmo que não se saiba porquê….




As cores são pinceladas fortes que enchem as páginas e que nos prendem a cada pormenor. Cada imagem é um mundo de imagens, vemo-las e tornamos a descobrir novos pormenores, novas figuras da vez seguinte.











Muito bom, como Shaun Tan já nos vem habituando.





"Nunca percas o último dia de Verão.

E é tudo.”




Título: As Regras do Verão
Autor: Shaun Tan
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 46
Editor: Kalandraka
ISBN: 978 989 749 021 7