terça-feira, 17 de janeiro de 2017

"O meu nome é vermelho" de Orhan Pamuk




SINOPSE


Orhan Pamuk é o grande vencedor do prémio Nobel da literatura 2006. A Academia Sueca não lhe poupou elogios: «na procura pela alma melancólica da sua cidade natal descobriu novos símbolos para o confronto e entrelaçamento de culturas». Um dos mais reconhecidos romancistas, Pamuk tem o seu trabalho traduzido em 45 línguas. Nos seus livros, os leitores são levados a submergir num labirinto de histórias e crenças, onde as personagens com as quais nos identificamos podem a qualquer momento tornar-se estranhas, avançando noutra direcção, para outra vida ou outra cultura. A sua cidade de origem é uma referência incontornável no percurso literário do Nobel, um local onde os leitores de todo o mundo podem viver outra vida com o sentimento de que aquele lugar também lhes pertence.

Em O Meu Nome É Vermelho, inicia-se uma viagem até Istambul, do século XVI onde um iluminista da corte aparece morto no fundo de um poço. A partir daqui desenrola-se uma história que pode ser lida não só como um mistério, mas também como uma história de amor. A narrativa desenrola-se em torno das investigações deste homicídio, sendo contada alternadamente por diferentes personagens, a maioria humanas, mas também por animais e objectos. Um romance exótico onde se espelha a tensão entre Ocidente e Oriente.





A conselho de uma amiga comprei na Feira do Livro (a um preço mais convidativo) o meu primeiro livro de Orhan Pamuk, escritor turco que recebeu o Nobel da literatura em 2006. Não conhecia nada deste autor e fui surpreendida pela sua escrita muito agradável e pelas inúmeras histórias que enchem as páginas desta belíssima obra. 

Orhan Pamuk transporta-nos para o final do século XVI , em Istambul, para o seio da comunidade de miniaturistas que trabalham para o sultão otomano. Com eles percorremos um caminho traçado de histórias, crenças, de paixões e questões metafisicas e religiosas que se entrelaçam entre o Ocidente e Oriente. 

A história principal é simples: um miniaturista é encontrado morto num fundo de um poço e importa pois descobrir quem o matou. No entanto é a partir deste crime que o autor nos leva aos meandros da arte e da sua representação, das pinturas orientais e das influências cada vez mais fortes (na época) das tendências ocidentais, nomeadamente da perspectiva e do retrato. 

O sultão encomendara a execução de um livro secreto, que seria um presente para uma comitiva veneziana e as suas iluminuras deveriam retratar a glória do império otomano através da arte islâmica. Quatro miniaturistas desenvolviam o trabalho, tendo como orientador o “Tio” que servia de elo entre estes e o próprio sultão, e que pretendia tornar esta obra num exemplar único em toda a arte otomana. Com a morte de um deles todos os outros se tornam suspeitos e as pistas são as próprias miniaturas que produziram. Paralelamente o romance surge, envolvendo dois dos protagonistas principais e com ele surge também todo o ambiente próprio da época à roda da alcoviteira que leva e traz bilhetes e recados no meio das suas trouxas de roupas. 

Uma das questões verdadeiramente fantásticas neste livro, na minha opinião é claro, é a narrativa ser contada por todas as personagens, ou seja todas elas intervêm directamente com o leitor e contam a sua versão ou opinião sobre os factos. As personagens são desde o cadáver que conta o que lhe aconteceu, ao assassino que, sem se identificar, explica as razões que o levaram a tomar aquela atitude, a todos as outras que se ligam ao ambiente onde se desenvolve a acção e mesmo um conjunto de personagens completamente inesperadas, como uma árvore, a morte, o dinheiro (hilariante!), a cor vermelha e mesmo um cão que explica as desventuras sobre a interpretação do Alcorão para denegrir a bom imagem da raça canina.

No entanto o mais fascinante da obra é que, ao colocar a história nas várias personagens que a vão narrando, Pamuk dá-nos uma visão muito mais abrangente do que apenas a abordagem estilística do romance, dá-nos a visão de cada um do mundo que o rodeia, os seus medos, as suas crenças, as suas críticas e espectativas sobre a sua própria vida. É sobretudo a visão do ser humano e do nosso autoconhecimento face a um acontecimento que acaba por ser a questão central do livro. 

“O meu nome é vermelho” foi publicado em 1998 e recebeu o prestigiado prémio, cinco anos depois, IMPAC Dublin Literary Award.




Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 480
Editor: Presença
Colecção: Grandes narrativas
ISBN: 9789722338349