domingo, 24 de novembro de 2013

Em Busca do Carneiro Selvagem de Haruki Murakami


Sinopse:


"Ambientado numa atmosfera japonesa, mas com um pé no noir americano, Murakami tece uma história detectivesca onde a realidade é palpável, dura e fria, e seria a verdade de qualquer um, não fosse um leve pormenor: é uma realidade absolutamente fantástica. Um publicitário divorciado, que tem um caso com uma rapariga de orelhas fascinantes, vê-se envolvido, graças a uma fotografia publicitária, numa trama inesperada: alguém quer que ele encontre um carneiro! Mas não é um carneiro qualquer. É um animal que pode mudar o rumo da história. Um carneiro sobrenatural… 
Murakami dá a esta estranha história um tom que só um oriental pode imprimir a uma crença, fazendo-a figurar como um facto da realidade. Coloca, de uma forma genial, a fantasia na aridez do mundo real."


Este foi o terceiro livro de Haruki Murakami que li. Segundo algumas das criticas um dos mais fracos do autor. Na minha opinião, não causou tanto impacto como os anteriores (Suptnik, meu amor e Kafka á beira-mar) é verdade, mas de todos foi aquele que me deixou mais pensativa.

O livro é uma procura do princípio ao fim e que culmina, como todos os livros do autor, de uma forma surpreendente, que pelas razões obvias não poderei revelar. Tem a mesma escrita doce que me cativa, as personagens fantásticas e misteriosas, o gato que não podia faltar, o bar, a música e a magia própria de Murakami que vai surgindo nos diálogos, no percurso do narrador e nos acontecimentos estranhos, sobretudo na parte final do livro.

Como já referi anteriormente, este livro deixou-me a pensar na vida, na ambição pelo poder e o que este pode influenciar o ser humano. De facto de que forma é que o poder pode alterar por completo o ser humano, de forma a que este passe os dias da vida à sua procura e viva obcecado por isso. Quando se obtém esse poder sobre os outros e sobre a vida as transformações podem ser enormes e este individuo pode tornar-se irreconhecível, sendo que, quando se perde, este poder deixa um rasto amargo que provoca uma destruição aos poucos do que resta do ser humano. 

Somos seres humanos e cada um de nós é especial, na nossa maneira de ser, naquilo que queremos da vida, nas nossas recordações e amizades. Há algo que nos une e que prevalece nas amizades que criamos. Haruki marca este facto muito claramente neste livro, a amizade é algo muito forte que prevalece acima de tudo, até mesmo para lá da morte e é ela que acaba por vencer. 

O que me fascina neste autor é de facto de ele ser tão humano, ele joga de uma forma magistral com os sentimentos humanos, aqueles com que nos deparamos na nossa vida. Ele pega nestes sentimentos e através de imagens e situações fantásticas, acaba por nos envolver por completo.

Não sei se outras pessoas entenderão este livro da mesma forma que eu o senti. Mas deixo-vos a minha opinião, com uma certeza inabalável, para mim, este escritor, foi a grande revelação de 2012. Felizmente já tenho mais livros dele para ler!

Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 374
Editor: Casa das Letras
ISBN: 9789724617152

domingo, 17 de novembro de 2013

Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo de Haruki Murakami


Sinopse

Em 1982, ao mesmo tempo que abandonava o lugar à frente dos destinos do clube de jazz e que tomava a decisão de se dedicar à escrita, Haruki Murakami começava a correr. No ano seguinte, abalançou-se a percorrer sozinho o trajecto que separa Atenas da cidade de Maratona. 
Depois de participar em dezenas de provas de longa distância e em triatlos, o romancista reflecte neste livro sobre o que significa para ele correr e como a corrida se reflectiu na sua maneira de escrever. Os treinos diários, a sua paixão pela música, a consciência da passagem do tempo (lembram-se desse poema urbano chamado Afterdark – Os Passageiros da Noite?), os lugares por onde viaja acompanham-no ao longo de um relato em que escrever e correr se traduzem numa forma de estar na vida.
Diário, ensaio autobiográfico, elogio da corrida, de tudo um pouco podemos encontrar aqui. Haruki Murakami abre o livro das confidências (e a sua alma) e dá a ler aos seus fiéis leitores uma meditação luminosa sobre esse ser bípede em permanente busca de verdade que é o homem.


Tenho a certeza de que já referi por várias vezes que Haruki Murakami caminha claramente para se tornar num dos meus escritores favoritos. Sem querer repetir-me sucessivamente, o certo é que a cada livro que leio deste autor, mais este facto se acentua. 

Neste livro, autobiográfico , Murakami revela-se perante os seus leitores. No seu estilo muito próprio ele descreve-nos as razões que o levaram, a partir de 1982, a tornar-se um corredor de fundo e começar a correr sistematicamente uma hora por dia, (em média 10km /dia, 60 Km/semana, 260km/mês). Participa numa maratona por ano, em vários locais pelo mundo, e mais tarde tornou-se adepto do triatlo.

O que é para ele a corrida? O que pensa enquanto corre? São algumas das questões que lhe colocam e sobre as quais ele reflecte e partilha com os seus leitores.

“Vendo bem, em que penso eu, exactamente, enquanto corro? Para dizer a verdade, não tenho a mínima ideia.
Corro, só isso. Corro no vazio. Dito de outro modo: corro para atingir o vazio. No entanto, há sempre um pensamento ou outro que acaba por se introduzir nesse vazio. O espírito humano não pode ser um vazio completo. As emoções dos homens não se revelam suficientemente fortes ou consistentes, ao ponto de albergarem o vazio. Quero com isto dizer que os pensamentos e ideias que invadem o meu espírito enquanto corro permanecem subordinados a esse espaço oco. Na medida em que lhes falta conteúdo, mais não são do que pensamentos ao correr da pena que têm como eixo a natureza do próprio vazio.

As coisas que me vêm à cabeça enquanto corro são como nuvens no céu. Nuvens das mais diferentes formas e de diferentes tamanhos, que vão e vêm enquanto o céu permanece o mesmo de sempre. As nuvens não passam de convidados. Aproximam-se a passo, para depois se afastarem e desaparecerem no horizonte. Fica apenas o céu. Existe, ao mesmo tempo que não existe, o céu. Tem substância e ao mesmo tempo não tem. E nós limitamo-nos a aceitar a existência desse recipiente incomensurável tal como ele é e deixamo-nos envolver por ele.
….
Enquanto corro, vou dizendo a mim mesmo para pensar num rio. Pensa nas nuvens, digo. Mas no fundo não estou a pensar em nada de concreto. Continuo, pura e simplesmente, a correr nesse confortável vazio que me é tão familiar, no interior do meu nostálgico silêncio. E isso é qualquer coisa de profundamente maravilhoso. Digam o que disserem.”

Paralelamente às suas descrições e dissertações sobre a corrida, Murakami numa linguagem muito directa, vai divagando sem rodeios. Fala-nos na sua vida, nas suas opções enquanto ser humano, como e porquê começou a escrever e como a escrita se tornou fundamental para a sua vida, dos seus sentimentos, da sua maneira de ser e de pensar e de que forma as suas atitudes afectam os seus romances.

Página a página, num ritmo sempre cativante, o leitor vai conhecendo um pouco mais do homem que está por detrás do escritor. O que sente enquanto corre, o que sente quando escreve e o que sente enquanto pessoa.

“Vejo este livro como uma espécie de memórias. Seria exagerado dizer que se trata das minhas memórias pessoais, mas, ao mesmo tempo, também não posso, em boa verdade, colar o rótulo de ensaio. Volto a repetir o que escrevi no prólogo. Através do acto da escrita, tive a intenção de ordenar os meus pensamentos, à minha maneira, e descobrir de que forma vivi durante os últimos vinte e cinco anos, como escritor e como ser humano igual aos outros. Quando se discute os critérios que estabelecem até que ponto o romancista se deve cingir ao romance e quanto deverá revelar da sua verdadeira voz, as opiniões variam de individuo para individuo, não podemos cair em generalizações. Ao escrever este livro, tinha esperança de ser capaz de descobrir qual é, no meu caso, esse padrão. Não tenho confiança suficiente para dizer se fiz (ou não) um bom trabalho, mas, assim que acabei de o escrever, posso dizer-vos que soube o que era libertar-me do peso que carregara aos ombros durante bastante tempo. “

Um livro diferente, mas muito bom. Um conjunto de opiniões sobre a importância da escrita e conselhos a quem procura ingressar nesta tarefa árdua e emocionante que é criar uma história e deixá-la correr pelo papel como um rio que corre pelas montanhas até desaguar no mar.

sábado, 9 de novembro de 2013

Abençoa-me, Ultima de Rudolfo Anaya

Sinopse

“Nesta obra-prima da Literatura Mexicana-Americana surge-nos Ultima, La Grande, uma bruxa velha e sábia, cheia de segredos, que ajuda o pequeno Antonio a encontrar a sua identidade pessoal e étnica. 

Ultima ensina-lhe que as perguntas mais difíceis sobre a vida podem nunca ser respondidas por uma única religião ou por uma tradição cultural. As questões que Antonio coloca sobre o mal, o perdão, a verdade, a alma penas por ele poderão ser respondidas. Somente a combinação das águas dos dois rios (a religião Católica e os mitos e tradições indígenas) fará Antonio encontrar a sua identidade chicana. Por isso, num gesto simples, mas cheio de significado, Ultima oferece a Antonio o seu escapulário. Nele não há qualquer imagem da Virgem ou de um Jesus crucificado mas um grupo de pequenas plantas medicinais. Simbolicamente, Ultima transmite o seu conhecimento da terra a Antonio.

Ele entende que é essencial escutar as revelações da natureza, sentir o poder que emerge das planícies, acordar as maravilhas da criação e unidade universal. A aceitação das suas heranças conduzirá Antonio ao equilíbrio cultural, condição essencial para a formação da sua identidade. O segredo está em reunir o llano e o vale do rio, a lua e o mar, Deus e a carpa dourada e fazer algo novo. Finalmente Antonio compreende que nada é verdadeiramente irreconciliável e move-se de uma visão polarizada da realidade para o reconhecimento da unidade dos opostos, da harmonia do homem com a natureza.”

Este livro é o romance estreia do autor, que a Editora Nova Veja oferece ao público português. Faz parte de uma trilogia completada por Heart of Aztlan e Tortuga, que ainda não se encontram traduzidas para a língua nacional.

Como é referido na sinopse, este livro conta-nos a história de António “Tony” Marez, um garoto chicano que viveu nos anos 40 na zona de Santa Rosa, uma cidade localizada no estado americano do Novo México, no Condado de Guadalupe. 

Ele encontra-se dividido entre dois meios culturais que não compreende muito bem. A nova cultura norte-americana, (com a sua religião protestante, moderna) e a cultura transmitida pelos seus pais mexicanos (religião católica, conservadora). No entanto no meio desta divergência, surge Ultima, La Grande a tradicional feiticeira mexicana, velha, cheia de segredos, acompanhada de um mocho estranho, que lhe vai transmitir todo o conhecimento e linguagem da terra.

Um livro cheio de misturas étnicas, folclore indígena e deliciosas paisagens, marcado pelo choque de culturas, mas com uma linguagem muito acessível que nos transporta para um mundo mágico, onde a ligação do homem à natureza acaba por prevalecer. 

Espero, ansiosamente, que a editora Nova Veja traduza para a língua nacional os restantes livros desta trilogia.

Em resumo um livro diferente, marcante e muito bom, que nos transporta para um universo mágico do espírito humano e animal, da natureza das paisagens áridas do grande llano, do espaço e culturas de um povo simples marcado pela era da globalização.

Um livro do qual gostei bastante e recomendo a quem se interessar por este tema. 

Descobri, recentemente, que saiu  um filme baseado neste livro:



domingo, 3 de novembro de 2013

O Livro do Novo Sol de Gene Wolfe




Ao começar a ler os livros que compõem “O Livro do Novo Sol”, fiquei com uma dúvida que se prende com esta tarefa de tecer um comentário aos mesmos. Iria comentar em separado, isto é livro a livro ou faria um comentário no final? Optei, como já repararam, pela segunda opção e não me arrependo, uma vez que na minha opinião os livros são um só.

No entanto torna-se importante fazer uma síntese inicial para explicar quais os livros que compõem esta magnifica saga.

“O Livro do Novo Sol” é composto por cinco volumes, sendo que inicialmente eram apenas quatro. Alguns comentadores referem que o quinto volume, editado mais tarde, não fará parte de “O Livro do Novo Sol” ao contrário de outras opiniões. Para mim faz todo o sentido que esteja englobado no seu conjunto, pelo que o tratarei como tal.

Para ficarem com uma pequeníssima ideia apresento as sinopses respectivas:


1 - A Sombra do Torturador


A Sombra do Torturador é um excelente livro de ficção científica extremamente enriquecido pelo recurso a figuras e estilos literários próprios de grandes autores clássicos de literatura. A história de um jovem torturador, pertencente a uma organização que está encarregue de torturar pessoas que lhe são enviadas, num tempo tão longínquo do nosso, onde o sol já está a morrer e a precisar de ser substituído por um novo sol. Existem imensas passagens extremamente ricas e a fazer lembrar outros autores, como por exemplo uma cena de cemitério ao estilo de Dickens, uma máquina de tortura Kafkiana, uma mágica biblioteca do universo de Borges. A ficção científica mistura-se com a fantasia, ambos se misturam com tiradas filosóficas e existencialistas.



2 - A Garra do Conciliador


Severian tem em sua posse uma pedra preciosa, que se crê ser "a garra do conciliador", poderosa relíquia do Mestre do Poder, uma figura lendária de proporções míticas. Com a Espada e a Garra como armas, Severian prossegue a sua viagem para Thrax, a cidade do exilio. No caminho encontra maravilhas como as criaturas simiescas, de corpos irradiantes e peludos e inteligência humana no olhar, que combatem Severian com um ardor e forças tais que é forçoso que o matem; como o bizarro ritual canibalistico que infunde em Severian as memórias e pensamentos de Thecla, a sua amada morta; como a sala de superfícies semelhantes a espelhos, na qual desaparece Jonas, o companheiro de Severian; e como a perturbadora Fonte Vática, à qual Severian atira uma oferenda a fim de conhecer o seu destino.



3 - A Espada do Lictor

Severian, exilado pelo "pecado" da misericórdia, chegou já à Thrax, a Cidade sem Janelas, para onde havia sido enviado como lictor. Mas coisas perturbadoras começaram a acontecer. Severian é perseguido por uma fera mortífera e dirige-se para as montanhas depois de ter sobrevivido a um novo encontro com Agia. Prossegue a fuga acompanhado por um rapazinho, cujos pais tinham sucumbido ao ataque de um alzabo. Mais adiante penetram numa enorme cidade deserta, onde Severian mata um velho inimigo do Conciliador, satisfazendo assim uma velha dívida de vingança daquele que está na origem da sua arma secreta: a garra.
Mas na batalha final, Severian perde o controlo do corpo e vagueia sem consciência, pelo seu próprio e ainda imprevisível futuro.


4 - A Cidadela do Autarca



Severian viaja pelas terras de Urth e é empurrado para o norte por personagens estranhas e terríveis: salamandras, criaturas de luz, nótulos. E, no fim, espera-o o destino supremo que não pode recusar, já que o futuro de Urth depende do regresso do Conciliador, o Novo Sol, há tanto desejado.





5 – Urth do Novo Sol

Severian, agora autarca de Urth, parte a bordo de uma nave do alienígena Hierodules para empreender uma viagem através do espaço e do tempo e enfrentar o supremo desafio: tornar-se no legendário Novo Sol ou morrer.





O Livro do Novo Sol conta-nos a história de Severian, habitante de um mundo a que o autor apelidou de Urth (provavelmente uma distorção de Earth, a Terra). Escrito pelo “seu” próprio punho, Severian leva-nos a empreender uma viagem desde a sua infância, um aprendiz de torturador, até ao seu derradeiro final.

Uma viagem que passa pelo conhecimento do seu mundo e consequentemente pela história do seu próprio planeta. É também, na minha opinião, uma viagem pessoal, à sua voz interior ou às mil vozes que o compõem. Quem é este homem, dono de uma memória infalível, como ele próprio tantas vezes afirma, é a questão que colocamos desde o início até ao fim de cada livro.

Com o desenrolar da história de livro para livro, a narrativa torna-se mais complexa e mais elaborada. As viagens no tempo surgem juntamente com estranhos seres do futuro e alienígenas.

No quinto livro, Severian é confrontado num julgamento do qual depende a vida do seu planeta.

Severian vai desenvolvendo a sua personagem à medida que a sua viagem progride, ele vai aprendendo a cada passo que dá nesse mundo misterioso e a cada mistério que resolve. O seu mundo defronta-se com um problema grave: o que acontecerá se o Sol se apagar definitivamente? É com esta dúvida presente que Severian, no meio de personagens densas e tão fortes quanto ele e no meio de um mundo dos mais complexos e criativos que já vi na escrita de FC ou de fantasia, vai crescendo.

É nesta viagem, que acabamos por acompanhar avidamente, que começamos a descobrir o verdadeiro valor de Gene Wolfe. Na pele de Severian, (personagem riquíssima da qual ficamos aprisionados desde o primeiro instante) o escritor vai-nos enfeitiçando com a sua narrativa, transmitindo-nos um mundo de sensações, de impressões quase fotográficas do mundo exterior, de descrições belíssimas, de cores e sons a cada página.

No entanto, a sua escrita, quase poética, cheia de significados e simbolismos, obriga-nos a uma leitura atenta, o que nos coloca face às realidades descritas no tempo e no espaço e aí somos confrontados entre estas e as memórias infalíveis no nosso personagem. Neste ponto não podemos deixar de reparar que nem sempre elas são coincidentes, o que nos leva a pensar: “ qual a verdade? O que de facto aconteceu?” e aí estamos perante a genialidade e as capacidades estilísticas do escritor. O mundo descrito por Severian, será o verdadeiro mundo de Urth? Quem é quem? E quem é o próprio Severian?

Não me quero alongar muito, nem baralhar ainda mais quem lê este meu comentário e não conhece a obra de Gene Wolfe, pois quem a conhece entenderá perfeitamente o que quero dizer.

A sua escrita é bastante complexa, no entanto fascina-me a sua linguagem e a sua interação com o leitor.

Olhando para trás na história, não consigo situar o que aconteceu em cada um dos livros, mas consigo ver uma história linear, no entanto chegando ao fim, as dúvidas levam-me atrás no enredo e voltei a última pagina a pensar: “vou ter que ler tudo outra vez!”.

Muitíssimo bom, excelente mesmo. Uma das melhores sagas que li até hoje.