domingo, 30 de junho de 2013

O Legado Vermelho de Manuel Alves



Sinopse

Lantis é um jovem brilhante, e uma das pessoas mais inteligentes do mundo. Atly é o seu irmão mais novo, sempre metido no seu mundo de fantasia, constantemente a inventar histórias povoadas de criaturas lendárias. Quando o pai, um conceituado cientista, os leva à Reserva dos Dragões, para estudar fendas sísmicas, Atly descobre algo que ameaçará a existência do próprio planeta.


Intervalando com outras leituras, decidi ler toda a obra disponível de Manuel Alves. E, a cada livro/conto que leio, mais certa estou de que tomei a opção correcta. Para além da fértil imaginação que o autor possui, encontramos uma escrita cativante e bem humorada que nos vai conquistando ao longo das páginas. 

O Legado Vermelho é um conto muito interessante que nos seduz a cada página que lemos.

A história fala-nos de um cientista e do seu relacionamento com os dois filhos. Dois irmãos bastante diferentes, um que apresenta um QI de génio, cientista como o seu pai em que acreditam nos acontecimentos e teorias desde que devidamente provadas e o outro mais fantasista, acreditando na sua intuição e em figuras míticas.

Com o desenrolar do enredo, há uma questão que se coloca: devemos acreditar naquilo que os nossos olhos vêem, desde que devidamente provado? Ou devemos acreditar na nossa intuição?

Um final muito bom, verdadeiramente surpreendente.

Este conto encontra-se gratuitamente em https://www.smashwords.com/books/view/255763


sexta-feira, 28 de junho de 2013

Maktub! Estava Escrito de Malba Tahan


Uma breve nota sobre quem é Malba Tahan. 

Malba Tahan nasceu em 1885 na aldeia de Muzalit, Peninsula Arábica, perto da cidade de Meca, o centro religioso do islamismo. Estudou no Cairo e em Constantinopla, foi perfeito da cidade de El-Medina e aos 27 anos, iniciou uma viagem pelo Japão, Rússia e Índia, em virtude de ter recebido uma herança por parte do pai. Morreu em 1921 na luta pela libertação de uma tribo na Arábia Central.

Até aqui nada de extraordinário na vida deste escritor, a não ser o “simples” facto de que Malba Tahan foi criado por Júlio César de Mello e Souza, professor de matemática extremamente criativo, que nasceu no Rio de Janeiro em 1895. Como era um apaixonado pela cultura árabe e pelos contos das “Mil e uma noites”, criou o seu heterónimo que rapidamente conquistou bastante sucesso.

Júlio César de Mello e Souza viveu até aos 79 anos (faleceu em 1974), deixando um conjunto de 69 livros de contos, dos quais se destacam, pelo seu sucesso, “O Homem que calculava” e “Maktub! Estava escrito”


Sinopse :

“Em Maktub! Saberá como o jovem Fauzi Nalik foi forçado a fugir depois de ter pintado o retrato do rei Mahendra, que tinha um nariz disforme. Descobrirá o segredo do sábio da Efelogia, aquele que sabia tudo sobre as palavras iniciadas por F. Porque é que qualquer historiador que queria relacionar os soberanos cruéis que dominaram as terras do Islão teria forçosamente de incluir o nome do sultão Ali-Hassan El-Muttalid?...

E muito mais, em cerca de quarenta extraordinárias histórias, sempre surpreendentes, que revelam de um modo surpreendente o mistério do mundo árabe. “

Um livro de contos curtos, na sua maioria sobre a cultura árabe e o modo de pensar deste povo, mas de uma forma mais fantasiosa e afastada da realidade, aproximando-nos mais dos contos das mil e uma noite.

O seu nome significa, como se encontra referido no próprio livro:

“Maktub, particípio passado do verbo Ktab (escrever), é a expressão característica do fatalismo muçulmano. Maktub significa “estava escrito” ou “tinha de acontecer”.

Aliás, o conceito de fatalismo, no Alcorão, em nada difere da forma como se apresenta na Bíblia. Quando o árabe, nos momentos de angústia, exclama Maktub! não declara, com essa expressiva palavra, um grito de revolta contra o destino. Maktub é apenas uma fórmula clássica, perfeitamente ortodoxa, por meio da qual o crente reafirma que o seu espírito está plenamente conformado com os desígnios insondáveis da vontade de Deus.”


É uma leitura muito agradável, simples, leve e divertida, boa para uns momentos de distracção e relaxamento.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo de Haruki Murakami


Sinopse
“Duas histórias paralelas desenrolam-se em cenários sugestivos. Uma decorre numa misteriosa cidade murada - o Fim do Mundo. A outra, numa Tóquio futurista, num gélido e desapiedado país das maravilhas.

Ao chegar à cidade fechada nos confins do mundo, o narrador vê-se privado da sua sombra. As suas recordações começam, pouco a pouco, a desvanecer-se, à medida que assume a tarefa de leitor de sonhos num lugar povoado por habitantes possuidores de estranhas carências anímicas e percorrido por unicórnios dotados de uma pelagem que se torna dourada no outono.
Na segunda história, um informático com trinta e cinco anos, ao serviço de uma duvidosa entidade, envolve-se com um cientista que tem tanto de genial como de enigmático. Que representam de importante para o futuro da humanidade as misteriosas experiências que colocam em risco as cobaias? Quem são os obscuros Invisíveis? Qual o significado das criaturas rastejantes e malignas que escorregam dos buracos ocultos, vagueando pelos tenebrosos subterrâneos? É precisamente no fundo da sua mente que o herói encontrará a solução do mistério que liga as personagens destes dois mundos.

... Um acelerador de partículas narrativo percorre o romance, num movimento de zoom, aproximando-se e afastando-se de crânios de unicórnios e bibliotecárias vorazes. Wild Turkey e Bob Dylan. Charlie Parker e Lord Jim. Turguéniev e O Homem Tranquilo. Paixões em Fúria e Lauren Bacall. Dostoiévski e os Police. ‘Danny Boy’ e a música reggae. Há todo um mundo de referências nesta poderosa alegoria sobre os tempos modernos.”


No momento em que fechei a última página, fiquei a olhar para a contracapa onde surge o seguinte parágrafo:

“ – Consigo ler o teu coração. E vou conseguir uni-lo num todo. O teu coração deixará de ser um coração perdido e fragmentado em mil pedaços. Está aqui e ninguém vai poder arrebatar-to. – Tornei a pousar os lábios sobre as pálpebras dela. – Deixa-me aqui sozinho – pedi. – Quero ler o teu coração antes que a manhã chegue. A seguir, dormirei um pouco.”

Depois fiquei com a sensação de um vazio. Aquelas personagens, aquele mundo que me acompanhou por uns dias, enquanto durou a sua leitura, iria deixar de fazer parte do meu dia a dia. 

Um livro, na minha opinião, verdadeiramente fantástico. 

Escrito em 1985, vencedor do Prémio Tanizaki (um dos prémios literários mais prestigiados do Japão e é atribuído, desde 1965 a obras de ficção ou drama, escritas por profissionais) só recentemente chegou às nossas livrarias. Classificado como Ficção Cientifica. (se bem que por vezes me questiono onde fica a fronteira exacta, que classifica um livro, quando este não pertence claramente a um determinado género literário)

Como já se encontra referido na sinopse, este livro apresenta duas histórias em paralelo, uma nos capítulos pares e a outra nos capítulos ímpares. Ao longo das suas páginas vamos acompanhando dois mundos, duas sociedades e duas narrativas completamente independentes. Apenas uma característica comum: ambas são escritas na 1ª pessoa, dois homens sem raízes, que procuram a razão da sua existência, perdidos nos seus mundos, sem se cruzarem ao longo de toda a narrativa.

O País das Maravilhas apresenta-nos a cidade de Tóquio, numa realidade aparentemente normal, onde um informático é solicitado para desenvolver um trabalho junto de um velho cientista. Como todo o verdadeiro cientista, este “avô” tem a sua cota de genialidade bastante apurada. Sem perceber bem como, o nosso personagem vê-se envolvido num projecto altamente secreto, constituindo, ele próprio, um alvo de procura por parte das várias facções do poder, uma vez que o seu cérebro funciona como um processador de dados, capaz de registar e criptografar informação.

O Fim do Mundo apresenta-nos uma cidade, rodeada por uma muralha intransponível, onde as pessoas vivem despojadas dos seus corações e das suas sombras. Nesta, o homem chega e é-lhe atribuída a função de leitor de velhos sonhos em crânios de unicórnios, mas para tal vê-se privado do Sol e da sua sombra. Sem memórias, resta-lhe apenas o seu coração para compreender o que se passa ali.

Folha a folha, vamo-nos conectando com as suas vidas e com os simbolismos que o autor tanto gosta de utilizar nas suas obras. Surgem-nos as questões: o que significam os crânios, os unicórnios, a sombra, os velhos sonhos? Será que há algum relacionamento entre estes mundos paralelos? Muitas outras perguntas vão surgindo, mas Haruki faz-nos esperar pelo tempo certo para as respostas, nada é apresentado ao acaso, mas sim inserido numa trama que se vai desenrolando num tempo próprio ao longo de todo o livro.

A comida (há sempre quem coza esparguete), bem como as referências musicais são sempre uma constante nos seus livros, sendo que aqui acresce o gosto pelos clássicos da literatura.

No meio do desenvolvimento de toda a história, surge no nosso pensamento outro tipo de questões, de facto qual o papel da evolução nas nossas vidas, de que forma ela poderá condicionar-nos num futuro e quem somos, enquanto seres humanos providos de um coração, de sentimentos e sonhos. 

Como refere o velho cientista no inicio do livro: “uma evolução feliz é coisa que não existe.”

É muito difícil descrever a escrita de Haruki Murakami,. Acredito que ou se gosta bastante ou então não se gosta, e as duas opções são válidas.

A sua escrita apresenta-nos episódios divertidos, recheados de um humor muito próprio. Os diálogos são muito bons, fluem naturalmente. Escreve com uma ternura aliada a um misticismo que nos deixa sempre com um sorriso. 

Para mim como já referi mais do que uma vez Haruki Murakami tem uma escrita deliciosa e é um excelente contador de histórias.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Enciclopédia da Estória Universal – Arquivos de Dresner de Afonso Cruz



Sinopse

Com reflexões e histórias ignoradas noutras enciclopédias, o volume Arquivos de Dresner aborda, entre outras coisas, o caso de Ezequiel Vala, um maratonista que perdeu uma prova, nas Olimpíadas de 1928, por causa de uma flor (amaryllis/hippeastrum); fala do explorador Gomez Bota, que provou que a Terra não é redonda e descobriu, numa das suas viagens, a entrada para o Inferno tal como Dante a havia descrito; e relata os hábitos dos índios Abokowo, que dão saltos quando dizem palavras como «amor» e «amizade».


Esta é mais uma viagem lúdica pela História, remisturando conceitos, teorias e opiniões e lançando nova luz sobre uma panóplia de assuntos, desde a filosofia à religião, desde o misticismo à ciência.

«Um artista é alguém que, em vez de pintar uma paisagem tal como ela é, faz com que as pessoas vejam a paisagem tal como ele a vê.»
(Tsilia Kacev)



“Ler é uma maneira de ser. Tal como os homens usam roupa, a alma usa livros”
(Wihelm Möller)

Deste autor, apenas tinha lido um conto e alguns excertos das suas obras. Fiquei bastante curiosa e assim que tive oportunidade, agarrei-a e comecei por este volume da sua Enciclopédia da Estória Universal.

E devo-vos dizer que gostei muito. Esta enciclopédia, como o seu nome indica, apresenta-nos um conjunto de pequenas histórias, definições e um pouco de tudo aquilo que uma enciclopédia deve ter. 

No entanto, todos estes conceitos são “envoltos” numa escrita muito própria em que o autor utiliza quer a reflexão filosófica quer o saber místico, levando-nos a viajar nas páginas do seu universo sempre com um sorriso.

São pequenas histórias de tribos indígenas (os Abokowo), de tartarugas bicéfalas, de corredores olímpicos amantes de botânica, de exploradores que tentam provar que a Terra afinal não é redonda (Fernão Magalhães estava errado) entre outras, intercaladas com poesias soltas, pensamentos, provérbios e ditos populares. 

Neste livro a realidade e a ficção misturam-se de forma harmoniosa, levando-nos constantemente a questionar onde uma começa e onde a outra termina, ou se existe alguma verdade nestes pedacinhos de história, ou mesmo se os autores mencionados não serão apenas personagens criadas pela imensa imaginação do autor.

Um livro diferente no panorama nacional. Uma obra que me leva a querer saber muito mais sobre Afonso Cruz.

domingo, 2 de junho de 2013

Os Leões de Al-Rassan de Guy Gavriel Kay


Sinopse:

"Inspirado na História da Península Ibérica, Os Leões de Al-Rassan é uma épica e comovente história sobre amor, lealdades divididas e aquilo que acontece aos homens e mulheres quando crenças apaixonadas conspiram para refazer – ou destruir – o mundo. 


Lar de três culturas muito diferentes, Al-Rassan é uma terra de beleza sedutora e história violenta. A paz entre Jaditas, Asharitas e Kindates é precária e frágil, mas é precisamente a sombra que separa os povos que acaba por unir três personagens extraordinárias: o orgulhoso Ammar ibn Khairan – poeta, diplomata e soldado, o corajoso Rodrigo Belmonte – famoso líder militar, e a bela e sensual Jehane bet Ishak – física brilhante. Três figuras cuja vida se irá cruzar devido a uma série de eventos marcantes que levam Al-Rassan ao limiar da guerra."

Os Leões de Al-Rassan é um livro de ficção que tem por base uma determinada época da história da península ibérica, a ocupação islâmica e as reconquistas cristãs. São muitas as semelhanças, no entanto rapidamente se verifica que o mundo de Al-Rassan faz parte de um universo à parte. As duas luas que se erguem nos céus, uma branca outra azul são uma das notas elementares deste facto. 

A história passa-se em redor de três personagens que são a peça fundamental de todo o enredo, uma vez que eles representam as três frações religiosas deste mundo criado por Guy Gavriel Kay. (Este facto é mais uma das semelhanças à nossa história ibérica).

Ammar ibn Khairan , o homem que matou o último califa de Al-Rassan, poeta, diplomata e soldado representa o povo asharita que veneram Ashar o deus das estrelas e que ocupam a região de Al-Rassan, cuja capital é Cartada.

Rodrigo Belmonte , Capitão do exército, líder amado por todos os que combatem a seu lado, jadita, adorador do deus do Sol Jad, habitante de Esperaña, a norte da península, e que se encontra dividida em três reinos: Ruenda, Valledo e Jaloña.

Jehane bet Ishak , médica, filha de um dos mais prestigiados médicos de toda a península, Ishak bet Yonannon, pertencentes ao povo kindate, adoradores da duas luas, branca e azul, e que habitam por todo o território.

Para além destas personagens, existem outras igualmente interessantes e bem construídas. Alvar Pellino, um soldado jadita, vai crescendo imenso, enquanto personagem ao longo de toda a obra, surpreendendo-nos verdadeiramente.

A vontade de unificar esta península é um desejo de todos, aliado á vontade de expulsar/ matar os infiéis. Este é mesmo o objectivo para a guerra santa que os altos clérigos jaditas tentam levar a cabo.

Um rol imenso de intrigas, jogos de poder, seduções que formam uma teia que a todos apanha nos seus meandros políticos.

Três povos, três religiões diferentes que se interligam e que acabam por demonstrar que pode haver união e entendimento entre seres humanos com ideologias diferentes, prevalecendo o sentido de honra e justiça.

Relativamente á escrita, esta é simples, fluida e de certa forma cativante. Não sendo muito elaborada e por vezes surge alguma construção de frases que me levou a ficar na dúvida se era erro de tradução ou se seria da própria forma de escrever do autor. Sendo este o primeiro livro que leio deste autor, acabei por me inclinar para a primeira opção.

Em todo o caso, não sendo um livro excepcional, é interessante e recomendo.