domingo, 27 de janeiro de 2013

Hoje partilho convosco um pequeno texto que fiz, há algum tempo, para um concurso. Com ele ganhei um livro autografado de uma das minhas escritoras favoritas Juliet Marillier.
Espero que gostem...


Naquele fim de tarde soprava uma brisa ligeira vinda do Norte, as folhas douradas dos carvalhos dançavam por entre os ramos e sussurravam entre si. Eu percorria o caminho que já conhecia de cor, no entanto em cada dia que por ali passava, havia algo novo que me fascinava. Uns dias era uma bela flor que despontava por entre o verde brilhante dos pilriteiros ou das madressilvas que trepavam pelos troncos abandonados, outros dias era uma pequena ave que lutava por alimento junto à berma do caminho.
Eram sempre pequenas coisas que nos enchiam o coração, coisas simples que nos faziam sentir a vida a pulsar no mundo.
Nesse dia, sentia algo diferente naquele bosque por onde vagueava. Uma pequena nota, como se de uma música se tratasse, e que ali se encontrava fora de tom. Não a conhecia, no entanto o seu som era agradável, era doce como uma gargalhada cristalina.
Procurei-a, mas era esquiva e percebi rapidamente que brincava comigo. Escondia-se no meio do arvoredo e lançava-me pequenos medronhos vermelhos e doces do cimo dos medronheiros centenários. Pelo chão, por entre os cogumelos que ponteavam o caminho naquele dia de Outono, eu procurava vestígios, pequenas pegadas que me pudessem indicar qual a origem daquela nota dissonante.
Cheguei mesmo a pensar que era alguma alucinação minha, invenção de um espírito fantasioso que de vez em quando ocupa o meu cérebro e me lança em correrias desenfreadas pelos caminhos da imaginação, sem rumo certo. Mas não! Eu estava ali serena, com os pés bem assentes no chão, com o cabelo a esvoaçar ao sabor do vento do Norte e com os sentidos bem despertos para os pequenos sons do bosque. Ouvia o chilrear dos chapins reais no cimo dos carvalhos, os pequenos insectos que rastejavam pelo chão, escondendo-se por baixo das folhas amarelas que caiam pelo chão arrastadas pelo vento.
Percorri mais um troço deste caminho que conduzia a um charco de água que recebia a água proveniente de uma nascente existente no meio das rochas. A água era pura e fresca, mergulhei as minhas mãos e levantei-as cheias de água, deixando-a escorrer por entre os dedos, gosto do som da água a correr cheia de vida.
Ali junto àquele espelho de água, senti mais uma vez a presença daquele espírito travesso que me seguia os passos. Lentamente aproximei-me e debruçando-me sobre a água observei o meu rosto, esperei um pouco naquela posição para ver se mais alguém teria a mesma ideia do que eu.
Pouco tempo depois, senti uma presença muito forte a meu lado. Não me mexi e continuei olhando a água. Foi então que vi aparecer o mais belo rosto que alguma vez vira. A meu lado surgiu um par de olhos cinzento claro. O cabelo branco brincava em volta de um rosto esguio e anguloso. Eu não conseguia desviar o meu olhar do seu, era como se uma força imensa me atraísse. Verifiquei que os seus lábios finos se abriam num sorriso. Muito lentamente levantei o rosto e olhei directamente para o meu acompanhante. Desta vez não fugiu e olhou-me abertamente continuando a sorrir-me. Quem seria aquele estranho ser? Questionava-me.
Lembrava-me as histórias que a minha mãe me contava, sobre estranhos seres que habitavam as florestas, os elfos (os meus preferidos), as fadas e os duendes. Aquele seria certamente um elfo, pois tinha o cabelo rebelde comprido e o cimo das orelhas era pontiagudo como as personagens das histórias da minha infância.
O seu sorriso era doce e dele emanava uma paz que chegava em ondas ao meu coração. Sem palavras ele enriquecia os meus pensamentos fazendo-me sentir viva como há muito não sentia. Pegou-me na mão e senti uma chama quente que inundava todo o meu ser. Esta sensação passou dos dedos, da mão para todo o resto do meu corpo, fazendo com que me sentisse muito leve. Levantando-se, levou-me com ele.
Era um ser etéreo, eu sentia-o mas apesar de ele agarrar a minha mão, eu não conseguia alcançá-lo. Sentia a chama que dele emanava, esta consumia-me, percorria todas as células do meu corpo, substituindo-as, transformando-as e no final senti a vida dele pulsar em mim. Com ele percorri todo aquele espaço, observando tudo pela primeira vez, a vida que existia em cada ser naquele bosque, era como se pulsasse em mim, tornando-me responsável por ela.
Os meus sentimentos estavam de uma forma que nem sei explicar. A sua voz era cristalina e alegre, e soava na minha mente, ensinando-me e relembrando-me a viver.
No final do dia, quando o sol se pôs, deixando um rasto alaranjado no horizonte, sentou-se a meu lado, colocando-me o braço a envolver os meus ombros e juntamente comigo observamos o pôr-do-sol em silêncio. Foi então que percebi!
Foi nesse momento que descobri quem era o meu companheiro e essa descoberta mudou para sempre a minha vida. Nesse dia aprendi a ver com a alma cada ser, aprendi a ouvir o silêncio e o som do vento. Aprendi que em cada um de nós existe um ser maravilhoso e  travesso que está sempre pronto a dar-nos a mão e lançar-nos medronhos vermelhos e doces…





15 comentários:

  1. Olá,

    realmente ao ler este texto até tive a sensação de estar a ler a própria Juliet, sinceramente.

    Um texto muito bem escrito, simples e muito bonito, é aqui que o corvo fiacha habita e se alimenta destes medronhos :D

    A serio parabens, era apenas um livro de oferta ? E qual foi o livro ?

    Sempre cuscos estes corvos lol

    Uma mais valia para o blog. este belo texto :)

    Bjs

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    1. Obrigado amigo Fiacha

      comparares-me a Juliet é um grande elogio :D só mesmo de um amigo como tu! Já ficaria bem contente em ter um décimo do talento desta fantástica Senhora.

      Foi para um concurso no Forum Marillier e o livro que ganhei foi o Seer of Sevenwaters (A vidente de Sevenwaters).
      Se calhar até votaste nestes textos :)
      andavas por lá nessa altura,

      Bjs

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  2. Mas olha que escreves muito bem mesmo, em especial neste tipo de exercicio, tens talento sim senhor e não falo só por este texto ;)

    Olha por acaso ainda não li o livro, que giro :D

    Não devo ter votado, nessa altura só lá aparecia muito de vez em quando, talvez a amiga pisco ;)

    Seja como for é justo, como referi um texto excelente

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  3. Que lindo, eu recordo-me deste conto lá no fórum, muito bonito e inesperado..:D

    Que bom "A caminhante", espero ver mais contos aqui no blog porque vale mesmo a pena ler, bonitos, sinceros e apaixonantes :D

    Parabéns..:*

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    1. obrigado Carla :)
      as tuas palavras, amiga, são bons incentivos.
      Sei que também escreveste na altura, que tal partilhares connosco no teu blog, tanto tempo depois é bom relembrar :)

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    2. Linda de facto participei é verdade :D

      No fórum foram publicados textos muito bons e este foi sem dúvida digno de vencedor...^_^ uma mensagem muita rica, basta abrir o coração e veremos uma série de ensinamentos desenhados em cada palavra ^_^

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  4. Olá SÃO, lindo o teu texto e muito profundo, realmente cada ser humano é único, indispensável e maravilhoso a sua maneira, basta q saibamos enxergar o q há de melhor em nós e no outro, pois muitas vezes, o outro é na verdade, o nosso reflexo, e vice-versa. Enfim, passei aqui para dizer apenas um olá e me deparo com este texto q me faz pensar qual o meu lugar na vida e no mundo? Tais respostas, só encontrarei depois de muito pensar, pois não há respostas prontas, há elaboração dos pensamentos frente, à quem somos para nós e para o outro, devemos primeiramente nos desvendar, conhecer-nos, até mesmo aos nossos defeitos (pois todos possuímos), e encará-los de frente, sem medos, ou receios, mas com paciência e humildade, para assim domesticá-los fazendo assim com que nossas qualidades brilhem e tal brilho ofusque nossa parte negativa. Fico por aqui,comentando q sinto falta das nossas conversas no cantinho, lembra? Abraços!

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    1. Olá Amanda
      Que bom ter gostado do meu texto, obrigado pelas tuas palavras, e fico contente que os meus textos possam ser positivos e de alguma forma ajudar ou dar animo às pessoas :)
      Eu acho que durante toda a vida nós vamos sempre procurando e tentando desvendar qual o nosso papel no mundo, estamos sempre a aprender e a vida vai girando, nós com ela e por isso nada é estático. Podemos encontrar aquele caminho que temos de seguir, o nosso trilho, mas ao percorre-lo há sempre descobertas, pessoas, amigos novos, que nos levam a reflectir novamente.
      aparece, és sempre bem vinda Beijinhos

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  5. Um texto magnifico sem dúvida... Já o conheço há algum tempo... Desde o concurso... e o mais engraçado de tudo é que a filha nem consegui votar no texto, portanto nem teve a minha ajuda para ganhar! O mérito é 100000000% dela! =) eheh... faltou foi ela ler o livro que ganhou!
    Parabéns!

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    1. Bem Ana Bernardes,
      obrigado pelo mérito :) e pelo teu voto em pensamento
      quando se tem o livro em português, custa mais ler o inglês, eh eh mas quando um dia o quiser ler novamente, podes crer que será a versão inglesa
      beijinhos

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  6. Mas ainda não tinhas em português! =P
    Fico a espera para ver então...

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  7. Olá,

    É só para informar que este blogue leva um selo de distinção da minha parte e com todo o gosto ;)

    http://leiturasdocorvofiacha.blogspot.pt/2013/02/ora-bem-foi-um-final-de-semana-com.html

    Bjs e espero que gostes :D

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    1. Fiacha, amigo :) Claro que gosto, é uma honra receber um selo teu.e espero ser merecedora dele.
      bjs
      :)

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  8. Ois amiga,

    Claro que és merecedora, tenhas tu tempo para te dedicar ao blogue e tenho a certeza que muitas coisas com qualidade aqui vão aparecer.

    Já agora era engraçado fazeres o exercício, fiquei curioso :D

    Bjs

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