Não conhecia esta escritora, nem o seu trabalho. No Natal passado uma amiga, ofereceu-me este livro e foi com alguma expectativa que o comecei a ler, muito embora não sabia o que iria encontrar.
Um pouco sobre a autora e a sua obra….
Alice Munro nasceu no Canadá em julho de 1931, desde muito nova (1950) iniciou a sua carreira como cronista, mas só a partir de 1976 consolida a sua carreira como escritora.
Foi por três vezes vencedora do prémio de ficção literária “Governor General's Literary Awards”, do seu país. Em 1998 Alice Munro foi premiada pelo National Book Critics Circle dos Estados Unidos, pela obra “O amor de uma mulher generosa”. Aos 82 anos foi galardoada com o Prémio Nobel da Literatura 2013.

Munro não escreve grandes romances, nem trillers, nem ensaios mais ou menos filosóficos. Ele escreve contos, pequenas histórias quotidianas com personagens que retractam pessoas comuns na vida de pequenas povoações do seu país. São mulheres, famílias, adolescentes , as suas relações humanas analisadas pela lupa dos sentimentos e das emoções.
Encontros casuais, separações, partidas, acidentes, desencontros, acções que não se concretizam, desvios no caminho normal de todos os dias que levam à alteração da rota das vidas, do “destino” , das maneiras de pensar e de viver a vida.
A Academia Sueca, ao anunciar a distinção, referiu a escritora como a “mestre do conto contemporâneo”. Há quem a identifique como herdeira de Tchekhov ou do realismo lírico de James Joyce. Alice Munro possui um talento muito próprio de nos apresentar a essência da vida quotidiana de um modo conciso através de palavras simples nos seus contos e romances.
A editora Relógio D’Água publicou desde 2007 seis antologias de contos de Alice Munro e um romance com aspectos autobiográficos” A Vista de Castle Rock”.
Fugas
Sinopse
As oito histórias reunidas em Fugas falam sobre pessoas - mulheres de todas as idades e de origens diferentes, os seus amigos, amantes, pais e filhos -, cujas vidas, nas mãos de Alice Munro, se tornam tão reais e inesquecíveis quanto as nossas.
Oito contos, oito histórias de mulheres onde a vida e o destino teimam em pregar partidas, afastando pessoas, provocando desencontros e arrastando as personagens para caminhos que não são aqueles que gostariam de percorrer.
Como o próprio nome indica tratam-se de oito fugas, de passados complicados, de laços familiares, de matrimónios, de relações impetuosas, de limitações provocadas pelo envelhecimento ou doenças, ou dos próprios sentimentos e que nos fazem pensar na nossas próprias vidas. Quem somos, quais as opções que tomámos ao longo da vida e de que forma elas condicionaram a nossa vida actual.É fácil identificarmo-nos com algumas das personagens de Munro, pelas suas descrições e pelas suas vidas.
A vida que teima em nos afastar daquilo que sonhamos ou idealizamos em determinada fase e que nada podemos fazer par o evitar. De uma forma suave ou com uma força imensa ela pode arrasar-nos e mergulhar-nos num verdadeiro labirinto de sentimentos e emoções. E é aqui que Munro sabe tão bem interpretar estes conflitos, transpondo-os para o papel, com a leveza de palavras e com a crueldade de sonhos e planos desfeitos e que nada mais podemos fazer do que nos rendermos ao que está reservado.
Os contos “Acaso”, “Em breve”, “Silêncio” surgem-nos como uma trilogia, sem que, ao ler o primeiro, tenhamos a noção de que páginas mais à frente, iremos encontrar novamente Juliet. São três etapas da sua vida que nos surgem em separado e com um intervalo de tempo menor para “Em breve” mas de 20 anos para “Silêncio”. Nestas três histórias assistimos ao desenrolar de uma vida que procura seguir os seus sonhos, ou a sua busca pessoal, mas que no final quando tudo parece bem encaminhado, o chamado Destino revela-nos uma faceta menos esperada e ataca onde menos se espera.
A vida de Juliet prende-nos a atenção, levando-nos a quase não prestar atenção a alguns pormenores que nos vão sendo revelados, ou a outros que estarão subjacentes e não nos são transmitidos nos dois primeiros contos. É aqui que o seu talento é muitíssimo bom, pois o final inesperado acaba por ser um pouco consequência desses factos de que habilmente Munro nos foi desviando a atenção.
Para mim foram os melhores contos do livro, mas todos eles são muito bons.
No entanto não esperem que sejam contos com um final feliz, em que tudo corre bem e ultrapassadas as amarguras da vida, esta traz-nos a felicidade como um presente merecido. Nada disso.
São histórias demasiadamente reais em que a vontade humana e a realidade da vida ou do “destino” andam lado a lado, puxando para um ou outro lado, convergindo por vezes, mas afastando-se irreversivelmente noutras.
Para muitos, o conto é considerado uma arte menor na literatura. Para quem lê os meus comentários e me conhece, sabe bem o quão errada é, para mim, esta opinião, pois sou uma grande defensora dos contos e contistas de todos os tempos.
E sem dúvida nenhuma que Alice Munro tem um lugar cativo entre os melhores!