quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A coisa perdida de Shaun Tan





"Então, querem ouvir uma história?
Bem, eu dantes sabia algumas muito interessantes. Umas eram tão divertidas que vos fariam rir a bandeiras despregadas, outras tão terríveis que não iriam querer repeti-las a ninguém.
Mas não me lembro de nenhuma dessas.
Por isso só vos vou contar uma, a daquela vez em que encontrei a coisa perdida…"






Seguindo a ordem, dos livros que fui conhecendo, nesta semana dedicada a Shaun Tan segue-se a “A coisa perdida” publicada em Portugal pela Kalandraka em 2012. 

No original, “The lost thing”, foi publicado em 1999 e inspirou Shaun Tan a realizar uma curta metragem, que recebeu, em 2011, o Óscar de Melhor Curta Metragem de Animação.




A história é-nos narrada na primeira pessoa, pelo próprio protagonista, um jovem coleccionador de caricas, que em tempos distantes passeava pela praia e que pela primeira vez vê a coisa. Uma marca na paisagem da praia, um corpo grande revestido por uma armadura de uma metal desconhecido, com portas e gavetas, uma chaminé lateral, uma tampa no cimo tipo cafeteira, diversos suportes, pernas e sininhos. 

Algo completamente dissonante, estranho e que não se parece com nada conhecido. No entanto, mesmo tendo em conta a sua dimensão, ninguém lhe presta atenção, é como se não existisse. E é essa noção da indiferença que causa ás pessoas que passam por ela que faz com que se sinta triste.






O rapaz que sente pena desta enorme coisa, aproxima-se e estabelece uma relação com ela. Simpatizam um com o outro e ele tenta arranjar um lugar, onde ela pertença, onde se sinta bem.





São as imagens que nos contam a história, enquanto as palavras apenas comentam os factos. Mais uma vez Shaun Tan opta pela apresentação de imagens diversificadas que passam pelas sequências curtas com diálogos entre as personagens, como o típico desenho da banda desenhada, às paginas cheias só com uma imagem, ou sobrepostas como se de colagens se tratasse. 



A história é simples mas desenrola-se diante dos nossos olhos carregada de ternura e melancolia, numa linguagem desenhada e subtil. O problema da exclusão por ser diferente, a indiferença perante os outros na vida quotidiana e a amizade são temas que aqui se encontram bem retratados, numa sociedade cinzenta e estéril, povoada de gente apática.




Duas figuras solitárias que se unem em busca de uma causa (um lugar para a coisa) e sobre a qual nada sabemos, mas que terminado o livro, nada ficamos a saber.








Um livro magnificamente ilustrado que não descura qualquer pormenor, desde a fantástica colecção de caricas nas guardas da capa, aos fundos das páginas de cor sépia que imitam folhas de antigos manuais técnicos de física e álgebra sobre as quais se conta a história. O mundo é retratado com cores sem vida, cinzentos, beges e cor de ferrugem.







Sendo um livro para crianças, coloca-nos, a nós adultos, a pensar neste futuro próximo, onde a tecnologia e a industrialização nos podem levar a agir apaticamente, sem vermos o que nos rodeia, nem darmos importância a qualquer “coisa” que surja no nosso caminho.



“De vez em quando ainda penso naquela coisa perdida. Sobretudo quando vejo pelo canto do olho algo que não encaixa.
Sabem, algo com um aspecto tipo estranho, triste, perdido.
No entanto, ultimamente vejo cada vez menos esse género de coisa.
Talvez já não haja por aí muitas coisas perdidas.
Ou talvez eu tenha apenas deixado de reparar nelas.
Demasiado ocupado a fazer outras coisas, se calhar.”





O video que ganhou o Óscar de  Melhor Curta Metragem de Animação em 2011 (legendado em brasileiro):




4 comentários:

  1. wow

    Grandes desenhos e com uma história muito promissora :)

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  2. Um a história muito simples, mas que nos faz pensar um pouco.
    Os desenhos são de facto muito bons e cheios de pormenores. Vale bem a pena, percorrer as páginas por várias vezes, encontramos sempre algo novo, um pequeno desenho, um pequeno traço, uma delicia :)

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  3. Simplesmente adorei...verdade...a simplicidade é algo de único e traz abraçado a ela toda a pura sensibilidade da vida..através dela o mundo torna-se mais fácil de viver, ou talvez, mais intenso, de forma mais realizada. Pena que nos esqueçamos da simplicidade, muito por culpa de culparmos a inocência para a condenarmos e transformarmos em preconceito para proferir tantas juízos errados e inúteis, e depois...perdem-se as coisas simples, as eternas lembranças brilhantes de uma vida.
    É bom relembrar e é bom voltar abraçar um pouco dessa simplicidade.
    Excelente história, excelentes imagens.

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    1. Verdade o que dizes Carla. :)
      Um trabalho muito bom, vais gostar
      bjs

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