Pedro, o menino voador
Desde
muito cedo que a mãe tinha sentido, na sua barriga, aqueles pezinhos minúsculos
a saltitarem e a baterem nos seus órgãos internos.
Quando
nasceu era uma criança saudável, calminha e muito bem disposta. Mas assim que
começou a andar, nunca mais parou. Pulava, corria, andava e mesmo quando, já
cansada se sentava, os seus pés nunca paravam.
-
Os meus pés têm asas – dizia sempre que alguém lhe perguntava porque não ficava
sossegado por um bocadinho. – Eles querem voar!
Contudo
o momento mágico revelou-se no Natal do ano em que completou os oito anos. Foi
nessa altura que a casa do lado foi comprada por um senhor simpático que tinha
umas barbas brancas. Falava-se que era um editor, alguém que lia muito e cujo
trabalho era pesquisar novos talentos na arte da escrita e publicar os seus
livros.
Era
simpático e Pedro, assim se chamava a criança dos pés voadores, gostava dele.
Cruzavam-se várias vezes à entrada do prédio e o Sr. Nicolau tinha sempre uma
palavra agradável para ele.
Foi
numa noite fria em que Pedro já estava deitado, que de repente algo
extraordinário aconteceu. Primeiros ouviram-se uns sons soltos., quase parecia
um gato a dar umas miadelas, nas traseiras do prédio. Mas depois de uma breve
pausa, veio um som baixinho que pouco a pouco se elevou nos ares como uma garça
em pleno voo. Era triste, melancólico, mas ao mesmo tempo gritava por
liberdade, por campos abertos cheios de pequenas flores brilhantes. Elevava-se
e tornava-se forte como o mar revolto batendo nas rochas, lançando a espuma no
ar e depois acalmava, morrendo junto à areia brilhante da praia.
Os
pés de Pedro, ao inicio ficaram à escuta, mas depois movimentaram-se autónomos,
transportando a criança ao som daquela música que chegava na calada da noite. O
som do violino atingiu o menino, invadiu todos os seus sentidos e chegou
triunfante à sua alma e ele, sem saber, dançou, dançou, dançou até cair exausto
na sua cama após a última nota se apagar na noite.
Nessa
noite, sonhou que voava ao som de violinos, seres alados acompanhavam o seu voo
e levavam-no a percorrer vales e montanhas, acompanhou as águias no topo das
montanhas geladas e os flamingos que planavam sobre os estuários cheios de
outras pequenas aves. Mergulhou na água fria dos mares acompanhando o caminho
do salmão que regressava para a desova, com ele subiu o rio e os seus pés
saltavam e mergulhavam nos rápidos do seu caminho até à nascente.
No
dia seguinte, Pedro falou no seu sonho aos pais e disse-lhes que queria ser
dançarino. Os seus pés rejubilaram, mas o seu pai colocou as mãos na cabeça e
pensou “Que falhanço! O meu filho quer transformar a sua vida numa dança.”
Sem comentários:
Enviar um comentário