sábado, 13 de fevereiro de 2021

"Outrora e Outros Tempos" de Olga Tokarczuk

 


SINOPSE

Outrora é uma aldeia polaca situada no centro do mundo e protegida por quatro arcanjos. Esta mítica aldeia, onde a relva sangra, a roupa tem memória e os animais falam por imagens, é povoada por personagens excêntricas e inesquecíveis - humanas, animais, vegetais, minerais - cujas existências obedecem aos ciclos das estações e à inexorável passagem do seu Tempo, mas também aos acontecimentos externos.

Durante três gerações, este microcosmo instável e arrebatador assiste ao eclodir de uma Grande Guerra, à Crise, a uma nova e Segunda Grande Guerra, à Ocupação Nazi, à invasão Russa, e ao choque entre a modernidade e a natureza, espelhando a dramática história da Polónia do século XX.

Primeiro grande sucesso de Olga Tokarczuk, vencedor do prestigiado Prémio da Fundação Koscielski, Outrora e Outros Tempos é um romance histórico, filosófico, mitológico e, no dizer da crítica, «um clássico da literatura europeia contemporânea».

A autora sempre quis escrever um livro como este: «A história de um mundo que, como todas as coisas vivas, nasce, cresce e depois morre… Cozinhas, quartos, memórias de infância, sonhos e insónia, reminiscências e amnésia fazem parte dos seus espaços existenciais e acústicos, compondo as diferentes vozes da sua história.»


 

Outrora e Outros Tempos” foi o primeiro livro (e único até à data) que li desta autora polaca, vencedora do Prémio Nobel de Literatura de 2018. Mas posso-vos referir, desde já que vou querer ler muito mais da sua obra, pois este livro é simplesmente fantástico.

A sua escrita simples, meio poética transporta-nos para uma pequena aldeia algures no meio da Polónia, onde se desenrola toda a história, cuja personagem principal é o Tempo.

Toda a obra circula através do Tempo, seja este momentâneo ou muito mais abrangente. É o Tempo de nascer, de crescer, de amadurecer, de envelhecer e de morrer.

São apresentadas três gerações através da personagem de Misía, desde que foi concebida, até à sua morte e paralelamente de todos os habitantes de Outrora e outras aldeias adjacentes que viveram na mesma época. O pai que partiu para a Grande Guerra (I Guerra Mundial) e voltou, a crise económica que se segui, a Segunda Grande Guerra com a invasão Nazi e posteriormente a ocupação russa e os tempos modernos com todas as suas alterações à vida desta pacata aldeia, à volta da qual tudo acontece.

No entanto Olga Tokarczuk vai mais longe, para ela também é o Tempo da vida dos rios que surgem como seres orgânicos integrantes da vida de Outrora, da floresta, das plantas e animais. Todos tem o seu tempo próprio de vida e de morte, até o moinho de café…

É um livro que nos leva a pensar na vida, naquilo que passamos ao longo de toda a nossa existência, as etapas que tempos de ultrapassar e seguir em frente, que nos leva a olhar a natureza como algo vivo e pulsante e ver a magia em todas as coisas simples que nos rodeia.

Filosofia, mitologia e muita prosa poética num livro que poderá ser para muitos um livro triste, mas que traz ao mesmo tempo uma esperança de que algo melhor poderá surgir depois da tempestade. 

Para ler com muita calma e com o tempo devido. 

Deixo-vos uma passagem do livro:

"Se olharmos atentamente para os objetos de olhos fechados para não nos deixarmos levar pelas aparências que as coisas espalham à sua volta , se nos dermos ao luxo de sentir alguma desconfiança, poderemos talvez ver, por um instante, a sua verdadeira face. 

As coisas são seres mergulhados numa outra realidade, onde não há nem tempo nem movimento. Nós vemos apenas a sua superfície, enquanto o resto, mergulhado algures, determina o sentido e o significado de todo e qualquer objecto material. Por exemplo um moinho de café.

Um moinho de café é um pedaço de matéria onde foi insuflada a ideia de moer.

Os moinhos de café moem e, por isso, existem. Mas ninguém sabe qual é o significado de um moinho de café. Aliás, ninguém sabe qual é o significado do que quer que seja. Talvez o moinho de café seja um fragmento de uma lei de mudança total e fundamental, de uma lei sem a qual este mundo não poderia sobreviver ou, então, seria completamente diferente. Talvez os moinhos de café sejam o eixo da realidade, em torno do qual tudo gira e evolui, talvez sejam mais importantes para o mundo do que as pessoas. Quem sabe se aquele moinho de café da Misia, único, não era o pilar da aldeia chamada Outrora ?"




4 comentários:

  1. Parece-me talvez um bocadinho filosofico demais para mim, mas estou sempre aberto a novas ideias e estilos. Gostei da tua opinião!

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    1. obrigada :) é um pouco, mas como a escrita é simples e cativante pela beleza e poesia acaba por não ser maçador nem complicado como alguns livros mais filosóficos podem ser. Por outro lado tem muito contacto com a natureza e isso vais gostar de certeza :)

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  2. Viva amiga caminhante,

    Espero que esteja tudo bem por esses lados, maldito Covid que nos vem condicionar um pouco a vida.

    Parece-me uma leitura interessante e que nos faz refletir, no fundo quanto mais anos vamos avançando na idade mais refletimos nestas coisas e como tudo começa e vamos passando por várias fazes na vida.

    Bjs, boas leituras e tudo a correr bem :)

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    1. desculpa responder tão tarde :) É uma autora que descobri recentemente e da qual tenho gostado bastante, mas é introspetivo e dado um pouco à melancolia. Mas deu para conhecer um pouco da vida rural da Polónia, numa fase complicada.
      Beijinhos e boas leituras

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