Faustino Manso, famoso compositor angolano, deixou ao morrer sete viúvas e dezoito filhos. A filha mais nova, Laurentina, realizadora de cinema tenta reconstruir a atribulada vida do falecido músico.
Em As Mulheres do Meu Pai, realidade e ficção correm lado a lado, a primeira alimentando a segunda. Nos territórios que José Eduardo Agualusa atravessa, porém, a ficção participa da realidade. As quatro personagens do romance que o autor escreve, enquanto viaja, vão com ele de Luanda, capital de Angola, até Benguela e Namibe. Cruzam as areias da Namíbia e as suas povoações-fantasma, alcançando finalmente Cape Town, na África do Sul.
Continuam depois, rumo a Maputo, e de Maputo a Quelimane, junto ao rio dos Bons Sinais, e dali até à ilha de Moçambique. Percorrem, nesta deriva, paisagens que fazem fronteira com o sonho, e das quais emergem, aqui e ali, as mais estranhas personagens.
As Mulheres do Meu Pai é um romance sobre mulheres, música e magia. Nestas páginas anuncia-se o renascimento de África, continente afectado por problemas terríveis, mas abençoado pelo talento da música, o sempre renovado vigor das mulheres e o secreto poder de deuses muito antigos.
Estava com bastante curiosidade em ler este livro de José Eduardo Agualusa, porque me tinham dado boas referências sobre ele e porque percebi que se tratava, de certa forma, de um livro de viagens pelo continente africano.
Não posso dizer que o livro superou as minhas expectativas, antes pelo contrário. Ou eram demasiado altas ou faltou mais qualquer coisa para que ficasse com aquela sensação de ter lido um livro que me deixou encantada.
África diz-me muito, porque já andei por lá, mais precisamente por Moçambique. Não sou natural desse país fantástico, mas vivi lá cinco anos (de 1972 a 1977) que me deixaram marcados na alma toda a imensidão das paisagens, dos sons, dos cheiros, da vida e das cores de África.
Mas voltando ao livro de Agualusa, este conta-nos a história de Faustino Manso, um musico angolano que viaja pelo continente africano, levando a sua música e amando mulheres em cada cidade por onde passa. A história é-nos contada por Laurentina que parte em busca da vida deste homem, ao receber uma carta da sua mãe, quando esta morre, em que lhe conta que os seus pais biológicos não são os que a criaram em toda a vida, mas sim que ela é filha de Faustino Manso.
Com esta noticia, ela decide partir para Angola, para descobrir algo mais sobre este homem, sobre a sua mãe verdadeira e no fundo sobre si mesma. Descobre que Manso acabou de morrer, deixando sete mulheres e dezoito filhos. Decide filmar um documentário sobre a vida do musico e reconstruir assim toda a sua vida.
Desta forma o livro leva-nos através de Angola, África do Sul e Moçambique acompanhando as personagens de Laurentina, Mandume, o seu namorado, Bartolomeu, um primo recém conhecido e Pouca Sorte, o motorista que os conduz através deste continente.
Cada capítulo é descrito por estas personagens diferentemente, falando das suas emoções e das suas sensações, levando-nos a conhecê-los mais intimamente e a perceber que todos eles procuram também perceber quem são neste mundo, tantas vezes ingrato e ruim.
As relações que se estabelecem entre os vários personagens e o que vão descobrindo por onde passam, bem como o auto-conhecimento de cada um, constituem, na minha opinião o fio condutor de toda a história.
O que gostei? Das auto-descobertas das personagens enquanto seres humanos, com os seus defeitos e virtudes e segredos.
O que poderia ter sido melhor e que me deixou desanimada? Acho que a viagem podia ser muito mais bem explorada, podiam ter sido mais descritivas as rotas, a paisagem, a imensidão e beleza desse continente e haver maior continuidade e ligação na história.
Faltou algo mais, na minha opinião é claro, para não me dar a sensação de que o livro são um conjunto de depoimentos soltos de várias personagens, que viajam por África para recolher elementos para um documentário sobre a vida do músico.
O final surpreende o que dá uma reviravolta positiva à história, mas logo a seguir tudo fica assim….
Talvez eu quisesse mais, no entanto está bem escrito e por isso dou 3,5 o que passa a 4 estrelas, pela escrita e pelo final.
Viva,
ResponderEliminarTudo para ser um grande livro mas acabou por não ser devidamente explorado é pena.
Moçambique deve ser uma experiência e peras sem duvida que quem vai a África fica para sempre marcado e falo de uma semana não de 5 anos :)
bjs e boas leituras