quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O Verdadeiro Dr. Fausto de Michael Swanwick




Sinopse

A lenda diz que Fausto vendeu a alma ao Diabo em troca de conhecimento ilimitado. Nesta brilhante subversão do mito faustiano por Michael Swanwick, Fausto está em guerra com Deus por ocultar dos humanos o sentido da vida, e deixa-se tentar pelo demónio sedutor que lhe oferece os segredos do voo e do cosmos, os princípios da economia e engenharia, os mistérios da medicina e do átomo.
Assim se inicia a transição de Fausto de louco a salvador, ao acelerar o progresso humano e precipitar uma nova era de mecanização centenas de anos antes do seu tempo. Mas é então que surge Margaret Reinhardt, e o amor monta uma armadilha a Fausto. Conseguirá o seu amor por Margaret sobreviver incólume à brutalidade e ganância de um mundo que caminha rapidamente para o caos… ou algo pior?





Um pouco de história….

O Dr. Fausto é uma personagem que virou lenda no mundo literário. Desde há muitos séculos que tem vindo a povoar as páginas de vários escritores. “Pensa-se”que ele terá “nascido” na Alemanha, mais precisamente em Würtemberg, entre 1480 e 1500 e que depois de anos de vida errante terá morrido em Breisgau.

Já muito se falava sobre Fausto, quando em 1587, Johann Spiess, escreveu a primeira narrativa sobre a sua vida “Historia von dr. Johann Fausten”. Num volume de 227 páginas o escritor apresentava ao mundo o homem que vendia a alma ao Diabo em troca de bens terrestres e da vivência de extraordinárias aventuras.

Pouco tempo depois, Christopher Marlowe, escritor e dramaturgo inglês, apresenta Fausto numa peça de teatro “A Trágica História do Dr. Fausto”, onde tenta, segundo alguns comentadores, retractar o novo espirito do homem da época, dividido entre a religiosidade medieval e o humanismo renascentista.

Fausto surge como o homem cansado da obscuridade cientifica da época medieval, e quando encontra Mefistófeles, o demónio, não hesita em assinar um pacto com ele. Neste, Fausto está disposto a trocar a sua alma pelos desejos e conhecimento. Mefistófeles não entende a mente humana, mas aceita devolver-lhe a juventude, o conhecimento e mesmo o amor através da doce Gretchen.

No entanto foi pelas palavras de Goethe que a tragédia de Fausto ficou internacionalmente conhecida. Este escritor dedicou-lhe grande parte da sua vida, mas só algum tempo após a sua morte é que o esboço “Urfaust” foi publicado, mais precisamente em 1887.

A lenda sobre a sua vida e o seu pacto demoníaco terá inspirado várias gerações, atingindo o seu auge no período romântico.

Muitos escritores perceberam que Fausto era um manancial para explorar temas mais profundos e filosóficos da literatura e muitos escreveram sobre os seus dilemas imateriais. Não vou aqui debruçar-me sobre todos eles, apenas destaco “Doktor Faustus” de Thomas Mann, publicado em 1947, em que o autor centra a sua obra sobre a discórdia do espírito, da mente e da vida real,


Opinião…

Pois bem, já me alonguei um pouco, mas achei curioso partilhar convosco este pequeno texto histórico - Fausto através dos tempos. Mais do que uma mera personagem de uma lenda alemã ele encarnou durante cinco séculos as dúvidas existenciais do ser humano, o bem e o mal, o valor do divino, a busca da verdade que existe desde os princípios dos tempos.

Michael Swanwick, rendido à personagem, presenteia-nos com um Fausto insatisfeito, que logo de início se questiona sobre o conhecimento que almejara e que de momento nada significa, não o convence. Queima praticamente todos os seus livros, sendo salvo pelo seu fiel discípulo Wagner, é considerado como louco pelos seus conterrâneos e durante um ataque de febre que o deixa completamente inconsciente, ele recebe a ajuda que tanto almejara.

Alguém oferece-lhe uma visão inesquecível sobre o universo e um inesgotável conhecimento. Finalmente a alma sedenta de Fausto encontra um reflexo naqueles seres que o abordam, aceitando um pacto com eles. No entanto, em qualquer pacto há sempre o outro lado e quando questionados sobre o que pretendem em troca, é-lhe mostrada uma visão horrenda do fim da humanidade, da destruição da raça humana provocada pelo próprio ser humano.

O conhecimento que lhe vai sendo transmitido, tem um propósito bem definido, é que este seja aplicado no desenvolvimento massivo de armamento, de material bélico, que possa conduzir ao fim desejado por aqueles que visitam Fausto, a destruição da raça humana, raça insignificante perante a vastidão do Universo.

Ao despertar da sua doença, Fausto começa uma nova vida, e como prometido é-lhe transmitido o conhecimento que lhe permite desenvolver novas teorias e conceitos da física e da matemática, inovando a tecnologia e provocando uma verdadeira revolução industrial em pleno século XV.

Desde sempre as dúvidas existenciais contrabalançam com a sede de conhecimento. Quem ganhará esta luta interna de Fausto? Não vos vou dizer como é óbvio….

Muito bem escrito, Swanwick leva-nos através do tempo, pela Europa fustigada de crenças religiosas e castradoras. Numa linguagem clara, muito longe, na minha opinião é claro, dos outros Faustos literários que foram surgindo, o autor foca de igual forma as questões de bem e do mal.
Até onde a crença no divino atrofia o desenvolvimento científico, ou mesmo nos responsabiliza pelas andanças dos demónios interiores?

As personagens estão bem desenvolvidas, sendo que todo o livro desenvolve-se à volta de Fausto, Wagner e o inseparável Mefistófeles. Margaret ganha um papel de destaque para o final, revelando uma verdadeira lutadora pela emancipação feminina.

Apenas quero referir que uma verdadeira revolução industrial e tecnológica em pleno século XV conduziria a situações ( a meu ver é claro) verdadeiramente catastróficas. O autor apresenta com muita ligeireza esta situação, a própria igreja tem um papel muito passivo, e este é para mim o ponto menos conseguido na obra.

 
Nome: O Verdadeiro Dr. Fausto
Autor: Michael Swanwick
Ano: 1997
Género: Fantasia
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 269

 

12 comentários:

  1. Não é um livro que me cative a ler, mas sem dúvida que tem temas interessantes.
    Boa opinião. :D
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada :)
      Confesso que ao inicio andei "leio, não leio" mas depois quando comecei, foi de seguida.
      Está muito bem escrito, e acabas por querer saber o que vai acontecer.

      Um dia , quem sabe, quando não tiveres nada para ler :D :D dá-lhe uma oportunidade

      beijinhos

      Eliminar
  2. Olá Caminhante,

    Confesso que já tinha saudades de ver uma mensagem tua, mas valeu a espera :D

    Só de me lembrar que comprei este livro na feira do livro por 5€, pelo que percebo temos aqui um excelente livro, tenho mesmo que ler.

    Ainda bem que gostaste, temia vir a ser um corvo depenado ehehe.

    Excelente comentário, sempre importante para divulgar um livro desta qualidade :)

    bjs e boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Fiacha
      Desta safaste-te :)
      eu prometi no inicio do ano que iria mexer mais no blog, mas .... (sem palavras)

      Deves ler o livro, é interessante e está muito bem escrito .

      Bjs e boas leituras também para ti

      Eliminar
    2. Sem duvida a ideia que tenho é que este é o meu exemplar :D

      Pois pois tal como o Marco, prometem, prometem mas eu é que acerto eheheh

      Eliminar
    3. pois, pois .... vais-nos dando que fazer ... :D
      é claro que é o teu exemplar e espero bem que o leias, pois eu agradeço-te a oportunidade que me deste para o ler :)

      bjs

      Eliminar
  3. Olá Caminhante,

    Aqui está um dos bons autores e um dos bons livros publicados pela Bang!, em que vale a pena investirem algum do vosso tempo.

    Li o livro há um bom par de anos e vem-me à "ideia" o seguinte :

    1) O Conhecimento não implica necessáriamente beneficio para o Homem.

    2) Com ou sem a Razão/Conhecimento/Progresso o Homem é sempre Corruptível.

    3) Progresso igual a Retrocesso

    4) Apesar da Razão, ou por isso mesmo, a Emoção acaba por prevalecer. ( E vice-versa,ehehe)

    5) Mefistófeles afinal é uma espécie de ET.

    6) O Inferno é estar Vivo. ( Sartre diria que o Inferno são os outros,e tal ideia provoca-me "A Náusea").

    7) "Jack Faust" somos todos nós, desde que nos seja dado oportunidade.

    De Swanwick li um outro romance, uma fantasia "mecânica", para acabar com todas as fantasias serôdias que por aí vegetam, e por isso diferente de todas elas, "The Iron Dragon´s Daughter".

    Acreditem ou não, aqui os Dragões existem e são Mecânicos, e "por isso" cospem fogo!

    Leiam ambos os livros.

    ubik






    ResponderEliminar
    Respostas



    1. A caminhante11 de fevereiro de 2015 às 15:04

      Olá Ubik

      verdade tudo o que te lembras, todas essas ideias que mencionaste, são precisamente aquelas em que ficamos a pensar ao terminar o livro.
      Tenho alguma curiosidade em ler mais do autor, gostei bastante da escrita e da história, da maneira como ele agarrou num mito e transformou-o em algo muito mais ficcional. Mas no fundo, a questão que está adjacente a Fausto mantêm-se.

      bjs

      Eliminar
  4. Olá :D

    Gostei muito da opinião A Caminhante, como sempre excelente. Apesar de eu não ser muito amiga de livros com um certo lado negro, o livro deixou-me com bastante curiosidade :D As lendas são sempre bons estímulos para escrever e o Dr. Fausto parece ser (aqui no livro) uma personagem muito interessante :D sabia pouco do Fausto e com este livro parece esclarecer alguns pontos...
    ...e Mefistófeles? eu conheço este nome de outro livro! eheh :D
    Boa continuação A Caminhante ;)
    Boas leituras :D beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Olá Carla :D

    obrigada ^_^

    De facto se tiveres oportunidade, vale a pena, está muito bem escrito e a história é bem interessante.

    Quanto ao Mefistofeles eh eh é bem diferente do outro, aqui é apenas um nome dado a um ser de outra dimensão, de outro universo. Mas que são ambos maquiavélicos são :D

    beijinhos e boas leituras

    ResponderEliminar
  6. Olá Caminhante,

    estas histórias oferecem sempre grande mistério e curiosidade. Talvez seja uma leitura a fazer, mas não por agora, apesar das belezas que dizes sobre ela. Muito do que referes na tua opinião ajudam a despertar a curiosidade =D

    Beijinhos e excelente opinião!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Maria
      Obrigada :)
      Eu gostei bastante, e penso que um dia que o queiras ler, irás gostar certamente. e fico contente por te ter despertado a curiosidade. :)

      beijinhos e boas leituras

      Eliminar