segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Caverna das Ideias de José Carlos Somoza



Sinopse:

“A Caverna das Ideias” é uma história intrigante: vários jovens, alunos da Academia do filósofo Platão, são assassinados selvaticamente. Diágoras, professor daqueles jovens, encarrega Heracles Pontor, o Decifrador de Enigmas, de descobrir a verdadeira causa das mortes. Acontece que, mesmo depois de expor a solução do crime, Heracles desconfia ter sido enganado pelas aparências.

O tradutor decifra “A Caverna das Ideias”, perseguindo obsessivamente uma possível mensagem oculta. Acontece que, mesmo depois de expor a solução do texto, o tradutor desconfia ter sido enganado pelas aparências.

O autor desconfia que o próprio livro é uma aparência.

…e os leitores reformulam calmamente as suas próprias hipóteses ao longo destes 12 inesquecíveis capítulos, julgando que ocupam o único lugar seguro.



Aparentemente estamos perante uma intrigante história policial passada na Grécia antiga. Três jovens alunos da Academia de Platão, surgem assassinados nas ruas de Antenas, com os corpos mutilados, e pelas características pensa-se, inicialmente, que poderá ter sido um ataque de lobos. 

Diágoras, mestre dos três jovens e seguidor de Platão, solicita a Heracles Pontor, famoso Decifrador de Enigmas, que o ajude a perceber o que terá levado a estes crimes horrendos e que chocam quer a Academia, quer a vida de Atenas. Heracles vai decifrando cada pista, sendo que atrás de cada uma, vão surgindo novas questões por desvendar.

No entanto, ao longo do livro, vamos percebendo que nada do que parece é. E que, conforme referido na sinopse, as aparências acabam por nos enganar ao longo de toda a obra.

Só esta parte da história e toda a trama que se desenrola á sua volta, é suficiente para que leiamos o livro com bastante agrado. Mas José Carlos Somoza não se fica por aqui. 

As questões filosóficas sempre presentes, do início ao fim, nos diálogos de um mestre, Diágoras, que partilha da doutrina dos filósofos antigos, nomeadamente de Platão e da sua teoria das Ideias, com um homem, Heracles Pontor, que apenas acredita naquilo que vê e naquilo que se pode provar no dia-a-dia, bem como o Tradutor que vai traduzindo o texto e que nos vai dando conhecimento, nas N.T. da sua reflexão sobre o texto, fazem esta obra invulgar tornar-se sublime.

O Tradutor há medida que traduz vai descobrindo várias pistas que fazem com que ele fique convencido que nos encontramos perante uma obra eidética. Para quem não saiba, a eidese, segundo o próprio Tradutor, é uma técnica literária inventada pelos escritores gregos antigos para transmitir nas suas obras pistas ou mensagens secretas, consistindo em repetir metáforas ou palavras que, isoladas, formam para um leitor perspicaz uma ideia ou uma imagem independente do texto original.

Na procura das mensagens escondidas por detrás do texto ele, o Tradutor, acaba por perceber que algo está errado, que as personagens do texto falam com ele e que ele próprio faz parte da história. De que forma? Já não vos posso dizer.

Um livro muito bom em que chegamos até à última página a ser constantemente surpreendidos.

“Ah, a literatura!...- exclamou. – Meu amigo, ler não é pensar a sós: ler é dialogar! Porém o diálogo da leitura é um diálogo platónico: o teu interlocutor constituí uma ideia. Contudo não se trata de uma ideia imutável: ao dialogares com ela, modifica-la, torna-la tua, chegas a acreditar na sua existência autónoma…”

15 comentários:

  1. Olá miga,

    Bem que grande comentário, só tenho mesmo pena de uma coisa, de segundo penso teres lido o livro emprestado, é que sabia-me bem ler um livro deste género :)

    Muito bem, fica registado ;)

    Bjs e boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Fiacha :)
      de facto é emprestado e quando mo emprestaram, disseram-me: "lê que vais gostar" , nem sabia bem o que me esperava.
      As voltas são trocadas até mesmo ao final, é impressionante o desfecho do livro. muito bom, mesmo :)
      bjs e boas leituras

      Eliminar
  2. Olá Caminhante,

    Parece-me um livro bastante interessante e gostei muito do teu comentário. Porém, não me sinto na capacidade de entrar por um livro tão filosófico, mas fica sem dúvida para uma leitura posterior. :)

    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Nadia, bem vinda :)
      como referi no comentário anterior ao Fiacha, muito bom e não é muito filosófico. é verdade que tem algumas questões filosóficas pelo meio, sobretudo à volta da teoria das ideias de Platão, mas não é muito pesado.
      Se tiveres oportunidade, aproveita :)
      beijinhos

      Eliminar
  3. Parece bastante interessante :) Sabes o nome do livro em inglês?

    ResponderEliminar
  4. Olá, bem vinda a este cantinho.
    O nome do livro em inglês é The Athenian Murders
    é muito bom, se gostares do género vale bem a pena
    boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada!
      Sabes o que é, corpos desmembrados, cenas mórbidas, mistério, intriga e tudo mais... adoro! Não consigo evitar. Um dos livros que estou a ler começa logo com um corpo desfeito na rua e há cérebro por todo o lado e a minha reacção foi dar gritinhos histéricos porque era tudo tão AWESOME

      (sim, eu tenho problemas... graves problemas)

      Obrigada mais uma vez São!

      Eliminar
    2. Eu gosto mais do factor psicológico, o efeito mental do que corpos desmembrados.
      Se procurares aí ao lado, tens um livro do Guy de Maupassant de contos que é muito bom, mas tem mais a ver com o psico.
      :)
      aparece sempre que possas e que te desperte o interesse

      Eliminar
    3. Eu gosto da psicologia envolvida, mas convenhamos é é preciso ser-se muito doente para se desmembrar alguém. Normalmente cenas macabras vêm em comunhão com a vertente psicológica do criminoso mais ou menos implicita, pelo menos nos livros que tenho lido. Há livros que até vêm com POVs do criminoso e nós temos acesso à sua forma de pensar e ver o mundo *.*

      Guy de Maupassant traumatizou-me com o Bel-Ami :x

      Eliminar
    4. Sim é verdade o que dizes :)
      Eu gosto bastante do Guy de Maupassant enquanto contista :)

      Eliminar
    5. Enquanto contista não li nada >.< Talvez um dia :D

      Eliminar
  5. Olá Olá..:D
    Parece bastante interessante, quer pela sua temática, abordagem filosófica, quer pelo envolvimento e desenvolvimento dado na história. Quando li o título, rapidamente fui levada de encontro para a obra de Platão "Alegoria da Caverna", e talvez, estejamos perante uma relação de ideias com a própria obra..(digo eu...).
    Aprecio bastante este género de obras, vou indagar ^_^
    Boas leituras :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida Carla. Tem tudo a ver com Platão e com a temática da Alegoria da Caverna.Como referi, são alunos da Academia que desaparecem e esta Academia é a fundada por Platão, inclusivamente o próprio aparece na obra :)
      é muito, muito giro,vale bem a pena se gostas da temática
      beijinhos
      boas leituras :)

      Eliminar
  6. Parabéns Caminhante, escreve muito bem e deixa-nos com "água na boca"!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Clarinda ^:^
      Satisfaz-me saber que posso ser útil e dar sugestões aos amigos que aqui veêm
      beijinhos

      Eliminar