sexta-feira, 3 de maio de 2013

Urbania de Carlos Silva




Sinopse :
Que influência terá sobre Lisboa a cidade em movimento, onde os sonhos e a lucidez se vendem como um mero produto? As duas cidades estão em rota de colisão e Hugo sabe que é a única oportunidade de alguma vez conseguir passar de uma para a outra, mas para isso terá de compreender o que os Lobos lhe dizem. Um romance sobre ciclos que se cruzam e entrecruzam, onde a única constante é a mudança


Carlos Silva é um jovem autor português que começa a divulgar a sua obra e que tive o prazer de ler o seu livro “Urbania” numa leitura conjunta.
Urbania é um livro composto por sete capítulos que funcionam quase como contos interligados entre si.
Inicialmente o livro deixa-nos meio confusos, ou melhor a mim deixou-me. São-nos apresentados o Ricardo e a Laura, a noite de Lisboa e os lobos, que não se entende muito bem, inicialmente, quem são e qual o seu papel. Surge um livro preto, ou melhor um caderno preto, peça fundamental no destino dos lobos, em que cada um tem de copiar e interiorizar o seu conteúdo.
Em seguida, no capítulo seguinte, deparamo-nos com o Hugo Maltês e a semiotologia. A história começa aqui a desenhar-se muito mais claramente e a deixar-nos com um laivo de entusiasmo crescente. Somos espicaçados, pela mudança e pela necessidade de mudança.
A temática das cidades paralelas que se cruzam algures num espaço, a chave, os lobos e a mudança face a uma rotina constante começam a ser as peças fundamentais deste puzzle que o Carlos Silva criou.
Surgem novas personagens, o professor Castilho e a Inês. Novamente os lobos, onde se começa a ver a ligação fundamental numa cidade estática com uma cidade em constante mudança, Urbania, a cidade móvel paralela
A procura da chave, simbolicamente a chave pode significar abertura, iniciação. Aqui será também esse o significado, certamente. A chave que é entregue a Hugo Maltês, abre-lhe uma nova dimensão da vida.
Urbania surge como a cidade colorida, despretensiosa, habituada a um ritmo que de repente é alterado e que cria o pânico entre os seus governantes. Novo capitulo, novas personagens e duas facetas nesta história, para mim fantásticas: o prédio vivo e o caçador de sonhos ( a minha personagem favorita). A estrutura de mudança de Urbania está genial e a dicotomia de incerteza : é o nevoeiro que engole Urbania ou é Urbania que foge do nevoeiro? Se de facto o nevoeiro avança sobre a cidade, como existem prédios vivos que acompanham a deslocação da mesma?
A memória, outro aspecto fundamental numa cidade em constante mudança. O registo das mesmas, o arquivista reformado, outra vertente que não falta neste mundo em mudança.
As várias personagens começam a interligar-se, criando como que uma teia que se estende de uma cidade a outra, infiltrando-se mesmo pelo nevoeiro com o surgimento do povo das brumas.
Os acontecimentos finais surgem a um ritmo rápido e o desenlace final cai de rompante, muito forte, deixando-me de certa forma meia atordoada.
Um livro muito interessante, cuja história nos vai prendendo a cada página que se vai desfolhando, passo a passo até ao auge onde tudo termina repentinamente.
No entanto, tenho de referir alguns aspectos que penso que deverão ser corrigidos.
Como já tive oportunidade de referir ao autor, no âmbito da leitura conjunta, surgem alguns erros ortográficos, em que alguns serão lapsos, mas outros talvez não. Nada que não aconteça a qualquer um que escreva, deve-se talvez pedir a mais do que uma pessoa para fazer uma revisão, por forma a evitar deixar passar algo a que os nossos olhos já se habituaram.
Na minha opinião, e esta é logicamente baseada no meu gosto pessoal, o ritmo do livro não é constante. Ou seja, o ritmo vai-se acentuando consoante o desenrolar da história, no entanto se inicialmente pouco acontece, existem algumas descrições mais detalhadas e mais pormenorizadas, no final o ritmo é muito intenso e tudo acontece rapidamente, parece que tem de terminar de imediato.
Resumidamente, poderei afirmar que a história e o tema são muito bons e estão muito bem desenvolvidos, no entanto em termos de escrita penso que o autor precisa de “amadurecer” um pouco mais.
Mas é com certeza um escritor com potencial, e com ideias fantásticas que deve explorar e transmiti-las em formas de contos e livros. Quanto mais escrever, na minha opinião mais aperfeiçoará a sua técnica, e os resultados serão melhores.
É, para finalizar, uma leitura agradável que recomendo tanto mais pela ideia genial da sua história.

4 comentários:

  1. Olá amiga,

    Já tinha lido o teu excelente comentário ao livro mas ainda não tinha tido oportunidade de comentar, pelo que apresento as minhas desculpas por só agora o fazer...corvos dirás tu :D

    Tambem gostei bastante, tem as suas pequenas falhas como referes mas penso ser um livro que vale bem a pena ler e que nos apresenta algo diferente do habitual e que quanto a mim ainda tinha imenso potencial para ser desenvolvido, como o Povo das Brumas, entre outros aspetos e aquele final deixa-nos a suspirar por mais.

    Seja como for aqui está uma excelente prova que não é necessário muitas páginas e uma enorme saga para se fazer algo de bom, gostei igualmente ;)

    Bjs e boas leituras, aproveito para te pedir um favor, uma abraço ao misterioso Ammar ;)

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    1. olá Fiacha
      És sempre bem vindo e desculpas aceites (corvos....eh eh )
      Não é de facto necessário ser uma grande saga para se ter um bom livro, há muitas histórias fantásticas em poucas páginas.
      Ah, entrego de boa vontade o teu abraço ao Ammar :D :D, não sei é o que ele enviará como resposta, eh eh

      Bjs e boas leituras

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  2. Obrigado pelo comentário :) É sempre bom ver o que as pessoas retiram do que escrevemos. O contéudo das histórias é quase sempre tão mutável quanto Urbania, adquirindo novos focos e interpretações a cada leitura.

    Se há leitores que se deitam a imaginar o Povo das Brumas, existem outros tantos que o que querem saber é a história do Caçador de Sonhos.

    É muito curioso ver que o primeiro capítulo da iniciação do Lobo é um dos menos favoritos, por ter uma acção mais lenta e reflexiva. É algo a ter em atenção no futuro.

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    1. Olá Carlos :) bem vindo
      é engraçado ver quase um ano depois o comentário que fiz e o teu, agora, comentário, depois de já ter lido outras coisas tuas.
      De facto estou em falta porque não as comentei, mas será para breve, prometido.
      Eu gostei bastante do Caçador de sonhos, como já referi :)
      E o que refiro no final, é mesmo real, quanto mais escreves melhor são os resultados. Os teus últimos contos que tenho lido são muito bons :)
      irei comentar!

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