domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Conferência dos Pássaros de Farid Ud-Din Attar



Alguns de vós que lêem este comentário, saberão que eu tenho um gosto particular por tudo o que toca a Religiões. Gosto de perceber o que move cada uma, quais os seus princípios e no fim, na minha opinião, é claro, perceber que todas elas têm um caminho comum. 

Sinopse: 


"Poema místico-filosófico do poeta persa Farid ud-Din Attar, composto provavelmente na segunda metade do século XII, “A Conferência dos Pássaros” – cujo título original “Mantp ud-tair” é traduzido indiferentemente por “linguagem”, “conferência”, “fala”, “discurso” ou “parlamento dos pássaro – tem como tema uma assembleia de pássaros que decidem partir à procura de um rei ideal, Simurgh, o Grande Pássaro. 


Nessa alegoria está simbolizada a busca da divindade empreendida pela alma humana. Para guiá-los nessa peregrinação, os pássaros elegem como líder a poupa, que os incentiva a iniciar a longa e difícil viagem, da qual alguns pássaros logo se esquivam, alegando vários pretextos. Depois da desistência dos fracos, os restantes iniciam a jornada e, através de sete vales – os vales da busca, do amor, da compreensão, da independência, da unidade, da perplexidade e do aniquilamento - , conseguem encontrar Simurgh, no qual reconhecem a mais profunda essência de si mesmos. 

Sob essa roupagem exótica, sempre brilhante e profusamente sugestiva, Farid ud-Din Attar escreveu um dos textos poéticos fundamentais do sufismo persa. O Caminho sufi é mostrado aqui em histórias cheias de incidentes, entrelaçadas com rápidas considerações acerca do caracter das pessoase com interessantes vinhetas que ilustram a Pérsia do século XII. 

A tradução inglesa de C.S.Nott, que serve de base para esta edição, segue, na maior parte dos casos, a conhecida tradução francesa de Garcin de Tassy. O texto em português é de Octavio Mendes Cajado."



A Conferência dos Pássaros é uma narrativa poética construída através de simbologias que pretendem ensinar o desenvolvimento de um caminho interior, através dos ensinamentos da tradição Sufi. 

A história, como já foi em parte referido na sinopse, fala-nos da procura de um rei. Os pássaros do mundo reúnem-se na tentativa de eleger um rei, já que todos os povos o têm e estes não. No entanto a Poupa, o mais sábio de todos eles, afirma que eles devem encontrar Simurgh, o Grande Pássaro (também conhecido por Angha). 

Figura da mitologia persa / iraniana, o Simurgh era considerado o purificador da terra e das águas e, consequentemente, concedia a fertilidade. A criatura representava a união entre a terra e o céu, servindo como mediador e mensageiro entre os dois. O Simurgh abrigava-se na Gaokerena, o Hom (avéstico: Haoma), Árvore da Vida, que fica no meio do mundo marítimo Vourukhasa. 

A Poupa surge simbolizando um mestre sufi, que vai indicando o caminho e as provações que vão ter de enfrentar. Os pássaros vão representando, através das suas características, as vicissitudes e falhas da mente humana que impedem o homem de atingir a iluminação. 

Durante o percurso, muitos desistem da meta, pressionados pelas duras privações da viagem 

Esta alegoria contextualiza, nas figuras dos pássaros, o sentido da própria existência e a procura de um conhecimento prático sobre os processos de desenvolvimento do ser humano. Não se procura pregar uma moral, mas sim ensinar uma norma de actuação em determinadas situações que conduzem a uma nova ética perante a vida. 


"A Conferência dos Pássaros",

pintado por Habib Allah. 

A poupa no centro, à direita, instruí
os outros pássaros no caminho sufi.
Attar descreve esta viagem em busca do Simurgh, o rei que seria capaz de estabelecer a ordem e a paz, numa linguagem simples e cativante. Paralelamente ao desenrolar da viagem, o autor conta-nos diversas histórias que reflectem a doutrina sufi de que Deus não é externo ou separado do universo, e sim a totalidade da existência. Os trinta pássaros buscando o Simurgh percebem que o Simurgh nada mais é do que a sua totalidade transcendente. 

Para mim, a leitura desta obra revela-se como mais um passo, no sentido de que todos nós trilhamos um caminho, no qual a nossa procura passa essencialmente por um conhecimento pessoal e pela nossa auto-construção enquanto seres humanos. Na figura dos pássaros que expõem as suas fragilidades ou os seus defeitos, vemos muitas das situações, que ainda hoje atingem o ser humano e contra as quais devemos aprender a lutar. 

Não é um livro que recomende a qualquer um, uma vez que a sua temática é bastante filosófica e transcendental, nem todos certamente apreciam este tipo de literatura. Mas é muito interessante para quem se interesse por estas questões. 




Nota: O Sufismo é uma vertente do Islamismo que promove a meditação e reclusão. O seu nome provém, pensa-se, do grosso manto de lã envergado pelos seus seguidores (a palavra árabe para lã é suf). Os sufis acreditavam que Deus era, acima de tudo, um Deus afectuoso e dedicado com quem o homem poderia alcançar uma unicidade mística, contrastando fortemente com a imagem de um Deus exaltado e inacessível ao qual o homem devia submeter-se (islamismo). O sufismo não é uma tendência organizada e pode-se encontrar sufis quer entre muculmanos xiitas, quer entre os sunitas.







7 comentários:

  1. Olá amiga,

    Gostei imenso de ler o teu comentário, como referes sem duvida que é um livro que deve ser bastante interessante, mas pessoalmente penso que não é o meu estilo de livro.

    Mas ainda havemos de falar melhor se vale ou não a pena dar-lhe uma oportunidade ;)

    Bjs e boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Fiacha
      Não acho mesmo que seja o teu género de livro. Se quiseres ele está na minha estante.
      Mas com tanta coisa boa que tens para ler, não me parece que seja a escolha acertada.
      Um dia, mais tarde, quem sabe :)
      Bjs

      Eliminar
  2. Pois foi a ideia que fiquei, interessante mas não meu genero :D

    Obrigado pela disponibilidade. A capa é mesmo muito bonita ;)

    Bjs

    ResponderEliminar
  3. É um texto lindíssimo São ^_^ gostei muito do comentário e da capa do livro..:)

    Parece-me ser uma bela surpresa esta leitura :D e também me parece ser uma história muito bonita e útil numa metáfora agradável..

    quero mais capas bonitas como estas ^_^

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. bem vinda Carla :)
      é um livro que se lê muito bem, para quem goste do género, é claro, pois a linguagem é acessível e as parábolas que vão sendo contadas no meio do percurso ilustram exemplos.
      As capas bonitas são sempre uma mais valia num livro :)
      O próximo a ser comentado também tem uma capa bonita, mas não tanto :)

      Eliminar
  4. não é um livro pra se ler de cabo a rabo,pode ser feito mais é mais interessante abrir aleatoriamente e degustar a sabedoria do oriente médio,cada paragrafo está carregado de conhecimento.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida.
      No entanto também é, na minha opinião claro, interessante ir acompanhando o caminho, a "viagem" em busca do seu rei. Como que uma reflexão interior, a procura pessoal.
      Obrigada pela visita e pelo comentário Lucas

      Eliminar