quarta-feira, 28 de setembro de 2022

"O Enigma da Chegada" de V. S. Naipaul

 




Sinopse

A história de um jovem indiano do Caribe que chega a uma Inglaterra pós-imperial e do caminho que este trilha na descoberta de si enquanto escritor. É a história de uma particularíssima viagem, também interior, da colónia britânica de Trinidad às regiões rurais da velha Inglaterra, de um estado de espírito para outro, tecida com uma notável inventividade que cria um romance rico e completo.

O romance mais autobiográfico do Prémio Nobel da Literatura






Opinião

Esta obra foi a primeira que li do autor. Foi a escolha de uma amiga do nosso trio de leitura conjunta e surpreendeu-me muito pela positiva.

Por várias vezes tinha observado os livros de Naipaul nas livrarias e nunca me suscitaram curiosidade, talvez porque nunca aprofundei o meu conhecimento quer pelo autor, quer pela sua obra. No entanto a partir de agora olho para eles de uma forma diferente.

Neste livro, o autor apresenta-nos uma escrita muito intimista, onde a personagem principal é o próprio narrador que nos vai falando sobre a sua vida, os seus pensamentos e sobre os outros, os que se cruzam na sua viagem, os que interagem com ele durante a sua aprendizagem e em Londres e sobretudo os outros que são os seus vizinhos na pacata região rural para onde decide ir viver.

A melancolia é um fator presente em toda a obra. O dia-a-dia é monótono, apenas a vivência do próprio narrador é importante. As restantes personagens surgem e desaparecem como as alterações na natureza e a passagem das estações. A vida traz mudanças ao longo do tempo e estas são registadas pelo narrador como fazendo parte do ambiente que o rodeia, a quinta que se transforma, as pessoas que partem, as que morrem, o declínio do próprio espaço. No entanto, estas mudanças levam o autor a sentir um fim, tudo se encaminha para um final, a morte e/ou a decadência.

Um livro muito descritivo, que nos transporta facilmente para o local, as pequenas histórias quotidianas fazem-nos avaliar os nossos valores, e levam-nos a repensar a vida no seu todo.


"Quando veio a primavera e não apareceram folhas de roseiras no meio dos galhos das moitas, com as suas sete folhas, e os botões de rosa não brotaram com os seus espinhos, a Sra. Phillips não disse nada, não tocou mais no assunto das roseiras e das podas. Foi uma das minhas primeiras lições no vale a propósito da ideia de mudança, do declínio do estado de perfeição em que eu julgara ter encontrado as coisas. E, embora nos anos seguintes, em maio, eu procurasse sempre os botões de rosa no meio das moitas, na esperança de um golpe de magia, aquele silêncio da Sra. Phillips acerca das rosas era para mim uma maneira de enfrentar o desaparecimento das rosas. Aquilo que era perfeição para mim teria sido decadência para as pessoas à minha volta, e algo quase inconcebível para os homens que tinham projetado o jardim e cuidado dele nos primeiros tempos. 

Portanto, já ninguém falava de roseiras. (...)"


Como se encontra referido na sinopse, “O Enigma da Chegada” é um livro autobiográfico, em que o autor nos conta sobre o seu percurso enquanto escritor, ao mesmo tempo que nos fala das suas viagens a partir da sua terra natal, Trinidad, passando por Londres e Oxford, até uma Inglaterra rural perto das ruínas de Stonehenge, onde vive durante alguns anos.

É neste caminho que ele se descobre enquanto escritor. A formação académica é apenas um pequenino passo de um jovem de origem indiana, que provém de uma pequena colónia inglesa, para a descoberta de uma Inglaterra multifacetada e com características muito próprias a que ele não estava habituado. É um processo de autoconhecimento de um cidadão do mundo, que se vai desenrolando pagina a pagina e que nos leva a reconsiderar o sentimento de pertença a um lugar, ou a uma terra.


"Observei esta mudança na minha personalidade; mas, sem sequer ter consciência de que se tratava de um tema, não escrevi nada no meu diário. De tal forma que, entre o homem que escrevia o diário e o viajante, havia já um hiato, um hiato entre o homem e o escritor.

O homem e o escritor são a mesma pessoa. Mas este facto constitui a maior descoberta de um escritor. Precisei de muito tempo - e de quantas páginas escritas! - para chegar a essa síntese."


sexta-feira, 13 de maio de 2022

"Chamavam-lhe Grace " de Margaret Atwood

 



Sinopse

Corre o ano de 1843 e Grace Marks foi condenada pelo seu envolvimento no brutal homicídio do dono e da governanta da casa onde trabalha. Há quem julgue Grace inocente; outros dizem que é perversa ou louca. Agora a cumprir prisão perpétua, Grace diz não ter qualquer memória do crime. Um grupo de clérigos e espíritos que lutam para que Grace seja perdoada contrata um especialista em saúde mental, uma área científica em expansão na época. Ele escuta a sua história, fazendo-a recuar até ao dia que ela esqueceu. O que encontrará ele quando tentar libertar as memórias de Grace?

 

 



Grace, uma jovem irlandesa, viaja para o Canadá ainda bastante nova, juntamente com a sua família à procura de uma vida melhor. No entanto nada corre como previsto. A mãe adoece e morre durante a viagem e o pai chega a um mundo completamente desconhecido com os dois filhos pequenos e Grace, ainda adolescente.

Muito cedo, a jovem procura trabalho como criada e sai de casa, perdendo a ligação à família. Seguem-se outros trabalhos, a sua amizade com Mary Whitney e por fim a sua mudança para a casa de Mr. Kinnear, onde são descritas as suas tarefas e o seu relacionamento com os restantes habitantes da casa e vizinhos, até ao dia em que tudo muda na sua vida. Acusada de ser cúmplice de James McDermott,  no assassinato do patrão (Thomas Kinnear ) e da sua governanta (Nancy Montgomery, amante de Kinnear), é julgada e condenada a prisão perpétua.

Nestes dois parágrafos pode-se resumir a história principal. No entanto esta é apenas a linha condutora que nos é relatada por Grace, nas suas conversas com Simon Jordan, psiquiatra, estudioso da complexa mente humana, que é contactado por um grupo de cidadãos que acreditam na inocência da jovem mulher.

De manhã, escoltada por dois guardas, a jovem mulher vai trabalhar para casa do diretor da prisão, regressando à prisão ao final do dia. É na sala de costura com o seu cesto na frente, enquanto costura, que Grace vai relatando a sua vida ao médico. 

Perante aquele médico atencioso, jovem e simpático, Grace surge como uma mulher sã e inteligente, muito diferente daquela que ele esperava encontrar. O caso complementa-se pela leitura dos relatórios do tribunal, e do hospital psiquiatra onde Grace esteve internada e torna-se um mistério para Jordan que quer entender a verdade que está por detrás de todos os factos e da qual  Grace não se lembra.

A história transporta-nos para o ambiente do Canada, no século XIX. Baseada num caso verídico, ocorrido em 1843 onde os verdadeiros Grace Marks e James McDermott foram condenados à morte pelo homicídio de Thomas Kinnear e Nancy Montgomery. McDermott acabou condenado a morte por enforcamento e Grace, condenada a prisão perpétua, pois conseguiu ver a sua pena atenuada.

Tudo o resto é obra de Margaret Atwood que primorosamente construiu um romance muito bom que recomendo a todos, quer pela escrita fantástica desta autora que muito admiro, quer pela história cativante que nos vai aliciando e que, tal como a Simon Jordan, queremos perceber e resolver.

 

segunda-feira, 28 de março de 2022

Exercício de escrita "O último dia de um condenado"

 





Hoje trouxeram-me um vestido.

Não sei porque razão querem que o vista, se tudo vai arder. Devem achar que o meu velho vestido não é apropriado, está sujo e roto. Mas é com ele que vou, pois é meu e se serviu para estar, durante todo este tempo, neste antro imundo e malcheiroso também servirá para me acompanhar até ao fim.

O ser humano é vil e egoísta! Como é possível que não entendam a mais básica das ciências, a mais antiga de todas as religiões. A minha avó ensinou-me a respeitar a natureza e a conhece-la como a palma da minha mão, a saber usar aquilo que ela nos dá para vivermos melhor.

A calêndula que apazigua as gripes e constipações, a doce-lima os males do estomago, a valeriana que nos ajuda a conciliar o sono em noites complicadas, a casca da bétula para irritações na pele e tantas outras que podem ajudar-nos. Mas para esses que nada compreendem do mundo que os rodeia, todo este conhecimento é bruxaria. Gentalha importante, mas pobre de espirito,

Sei que os minutos, passam e dentro em pouco tudo terminará para mim. Lá fora oiço o burburinho do povo que se aproxima para verem a bruxa arder na fogueira. Até esses que iam ter comigo à procura de mezinhas que lhes acalmassem as dores ou o sofrimento, hoje estão aqui para verem o espetáculo.

Sinto as botas de couro a calcorrearem o andar de cima.

Aproxima-se a hora e eu respiro fundo. Penso na minha vida e vejo o sorriso do meu filho, as gargalhadas dele quando brincávamos ao sol, dando cambalhotas no prado e correndo em direção ao riacho, onde mergulhávamos para ver os peixes a fugirem espavoridos. 

Lembro-me das histórias que lhe contava “era uma vez um rapaz que vivia numa floresta longínqua…”, “o que é longínqua mamã? “perguntava com a sua voz doce.

Agora oiço as chaves a baterem entre si, fazendo eco nas masmorras. Os guardas falam baixo, mas as suas vozes são possantes e ouvem-se bem.

Lembro-me quando lhe ensinei a ler e ele descobriu um mundo gigante à sua volta, queria sempre saber mais e mais. Cresceu muito depressa e em pouco tempo deixei de ter aqueles bracinhos fofos que me envolviam e os beijos molhados pelas lágrimas causadas pelo joelho esfolado ou pelo pico no dedo. Ah …. Agora sinto falta da barba que desponta e que me pica quando, num rápido momento de ternura, ainda me envolve com os seus braços fortes e me deposita um beijo no rosto.

Abrem-me a porta e levanto-me. Não digo nada, sigo em frente, no meio deles. Solto o meu cabelo que cai pelas costas, como um xaile vermelho que me aconchega de volta ao lar.

Lá fora, o sol apanha-me desprevenida, fecho os olhos por um momento e desoriento-me. Sinto a mão do guarda a agarrar-me no braço com força e dou um puxão, soltando-me e caminho em direção à pira que espera por mim.

Atam-me com força, devem ter medo que faça um feitiço e que saia dali a voar montada numa vassoura. Uma multidão ruidosa assiste. Olho em frente e vejo os rostos sedentos, querem sangue, querem espetáculos macabros que os façam esquecer a miséria da humanidade.

Vejo-o! No meio da multidão, sério com o seu rosto lindo. Tem uma mochila às costas, percebo que vai partir.  As lágrimas correm silenciosas pelas faces que tantas vezes beijei. Sorrio-lhe e sinto um calor imenso.

Fecho os olhos, guardo essa recordação dentro de mim e sinto-me livre para partir com ele, correndo o mundo à procura de novas aventuras.  


Obrigada Lara Barradas, Laboratório de escrita (https://www.laboratoriodeescrita.com/)

quarta-feira, 2 de março de 2022

Março em Sintra






Março, mês da primavera e já se sente no ar esta doce estação.

Naqueles breves momentos do dia em que o vento ou a brisa ligeira se torna quente e o sol brilha aquecendo-nos a alma, num céu imenso cheio de azul, ouvem-se os pássaros e as pessoas passam com um sorriso no rosto.

Mas Sintra não é um local de primavera.

É verde, da cor da folhagem das árvores que ladeiam as ruelas íngremes que se cruzam e lançam os seus visitantes à descoberta dos seres antigos que por aqui vagueiam.

É da cor da paisagem, mistura-se com o musgo que cobre as pedras antigas que povoam os caminhos e meandros da serra e os muros das velhas casas da vila.

Apenas as glicínias descem em cachos lilases pelos alpendres, muretes e pérgolas das casas senhoriais, com os seus troncos retorcidos e antigos, deixando por alguns momentos o seu cheiro doce e almiscaro no ar.

A serra espreita, mergulhada no seu manto feito de neblina cinza e pedaços de sonhos que descem em lufadas sobre a vila. Nos velhos trilhos, pelo cair da noite, sussurram-nos vozes profundas que contam histórias, lendas tão antigas que o tempo já se esquecera delas.

É uma alma antiga que espera serenamente pela bruma mágica e os seus mistérios.

Em Sintra vive-se e sente-se.

 


 


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Mais um exercício de escrita: um texto com as palavras "editor, pai e falhanço"

Pedro, o menino voador 


Desde muito cedo que a mãe tinha sentido, na sua barriga, aqueles pezinhos minúsculos a saltitarem e a baterem nos seus órgãos internos.

Quando nasceu era uma criança saudável, calminha e muito bem disposta. Mas assim que começou a andar, nunca mais parou. Pulava, corria, andava e mesmo quando, já cansada se sentava, os seus pés nunca paravam.

- Os meus pés têm asas – dizia sempre que alguém lhe perguntava porque não ficava sossegado por um bocadinho. – Eles querem voar!

Contudo o momento mágico revelou-se no Natal do ano em que completou os oito anos. Foi nessa altura que a casa do lado foi comprada por um senhor simpático que tinha umas barbas brancas. Falava-se que era um editor, alguém que lia muito e cujo trabalho era pesquisar novos talentos na arte da escrita e publicar os seus livros.

Era simpático e Pedro, assim se chamava a criança dos pés voadores, gostava dele. Cruzavam-se várias vezes à entrada do prédio e o Sr. Nicolau tinha sempre uma palavra agradável para ele.

Foi numa noite fria em que Pedro já estava deitado, que de repente algo extraordinário aconteceu. Primeiros ouviram-se uns sons soltos., quase parecia um gato a dar umas miadelas, nas traseiras do prédio. Mas depois de uma breve pausa, veio um som baixinho que pouco a pouco se elevou nos ares como uma garça em pleno voo. Era triste, melancólico, mas ao mesmo tempo gritava por liberdade, por campos abertos cheios de pequenas flores brilhantes. Elevava-se e tornava-se forte como o mar revolto batendo nas rochas, lançando a espuma no ar e depois acalmava, morrendo junto à areia brilhante da praia.

Os pés de Pedro, ao inicio ficaram à escuta, mas depois movimentaram-se autónomos, transportando a criança ao som daquela música que chegava na calada da noite. O som do violino atingiu o menino, invadiu todos os seus sentidos e chegou triunfante à sua alma e ele, sem saber, dançou, dançou, dançou até cair exausto na sua cama após a última nota se apagar na noite.

Nessa noite, sonhou que voava ao som de violinos, seres alados acompanhavam o seu voo e levavam-no a percorrer vales e montanhas, acompanhou as águias no topo das montanhas geladas e os flamingos que planavam sobre os estuários cheios de outras pequenas aves. Mergulhou na água fria dos mares acompanhando o caminho do salmão que regressava para a desova, com ele subiu o rio e os seus pés saltavam e mergulhavam nos rápidos do seu caminho até à nascente.

No dia seguinte, Pedro falou no seu sonho aos pais e disse-lhes que queria ser dançarino. Os seus pés rejubilaram, mas o seu pai colocou as mãos na cabeça e pensou “Que falhanço! O meu filho quer transformar a sua vida numa dança.”

 


Obrigada Laboratório de escrita (https://www.laboratoriodeescrita.com/) 


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

"Noite no caminho de ferro da Via Láctea" de Kenji Miyazawa

 

Sinopse 

O Principezinho japonês. Um dos clássicos mais conhecidos da literatura nipónica, traduzido pela primeira vez e a partir do original!

Noite no Caminho-de-Ferro da Via Láctea tem sido comparado frequentemente ao clássico de Saint-Exupéry, e é a obra mais conhecida de Kenji Miyazawa. Traduzido em mais de 50 línguas e publicada postumamente em 1934, esta é uma «história para crianças que deve ser lida por todos os adultos» (New York Review of Books).

O jovem Giovanni, cujo pai está ausente numa longa viagem, tem a mãe doente. Assim, Giovanni é obrigado a aceitar pequenos empregos e tarefas, antes e depois do horário escolar, para alimentar a família, desenvolvendo neste contexto uma amizade com outro jovem, Campanella. No final de um dia de muitas atribulações, Giovanni e Campanella dão por si a embarcar num estranho comboio a vapor que surge do céu.

Nele viajam pela nossa galáxia conhecendo todo o tipo de pessoas e apercebendo-se deste modo da vastidão e da riqueza do ser humano e da ciência, que o arrancaram da mera sobrevivência para dominarem o universo. Com esta viagem, os dois jovens percebem que há muito mais mundo para lá das suas vidas limitadas.

Uma viagem de descoberta da humanidade, das maravilhas da natureza e da capacidade de sonhar do ser humano e uma narrativa sobre o modo como a ciência pode transformar os sonhos em realidade.

Esta novela de Kenji Miyazawa foi adaptada a diversas séries de televisão e filmes de animação.

Neste volume juntamos também a novela A Vida de Gusuko Budori, que é traduzida pela primeira vez numa língua ocidental, tendo também sido já adaptada ao cinema duas vezes e abordando temas semelhantes.


Este foi o primeiro livro que terminei em 2022. Para quem me acompanha no Goodreads, perceberá que o comecei a ler em agosto de 2021, no entanto a demora nada teve a ver com o facto de estar ou não a gostar do mesmo. Mas sim porque o livro é composto por dois contos: “Noite no Caminho-de-Ferro da Via Láctea” e “A Vida de Gusuko Budori” e, no intervalo de outras leituras li em agosto o primeiro e só agora, no final do ano/ principio deste, li o segundo.

Foi a única obra de Kenji Miyazawa que li, mas fiquei com vontade de ler muito mais. A escrita deste autor é riquíssima, quer pela simplicidade das histórias quer pelo conteúdo e informação que o autor nos dá.

Enquanto nos conta a história da viagem do pequeno Giovanni e do amigo Campanella através da via láctea num comboio a vapor, o autor fala-nos da uma amizade pura e inocente de duas crianças, de sobrevivência e perseverança. Paralelamente mostra-nos um universo imenso, cheio de vida, luminoso, uma quarta dimensão que questiona a própria humanidade.

A segunda história “A Vida de Gusuko Budori” mostra-nos a vida difícil de quem vivia nas florestas Tohoku, no norte do Japão, na década de 1920. Após uma série de desastres naturais e da morte dos pais, Budori é forçado a partir. Experiencia diversos empregos onde compreende as dificuldades dos camponeses que vivem essencialmente do campo e da agricultura. Um acaso leva-o a juntar-se a um grupo de cientistas que trabalham com desastres naturais e onde ele procura a solução que permita resolver os problemas dos agricultores nesta área.

Ambos as histórias, estão repletos de descrições cientificas das espécies da flora e fauna do Japão, caracterizando-as em notas de rodapé, enriquecendo o livro com detalhes científicos e figuras de estilo ricas e cheias de imaginação.

Um livro considerado juvenil, onde nos é apresentado o lado triste da doença, da morte e da solidão, mas ao mesmo tempo desafia-nos a ver uma dimensão brilhantemente poética da humanidade, as maravilhas da natureza e convida-nos a nunca perdermos a capacidade de sonhar. 




sábado, 1 de janeiro de 2022

2022

 2021 foi um ano estranho!

Um mundo inteiro em reboliço à conta de uma pandemia que atingiu o ser humano em finais de 2019 / início de 2020 e que se esperava que tivesse o seu fim durante o decorrer deste ano. Foi a corrida à vacinação, às alternativas laborais, à procura de novos rumos de vida e a tantas outras coisas que cada um poderá relatar e constatar. 

O certo é que começando 2022, os números de novos casos continuam a subir, embora com menos gravidade que no ano anterior, segundo os especialistas, devido ao grande numero de pessoas vacinadas e à menor gravidade da nova variante. 

Nesta altura alguns de vocês poderão já comentar: "mais uma que só fala deste maldito "bicho"". 

Mas não é sobre isso que vos quero falar, esta foi apenas uma breve introdução para pensar alto no novo ano que hoje começa. 

Um ano em que, contrariamente aos anteriores, tenho várias expectativas que espero vir a concretizar. Coisas simples, mas que por vezes a preguiça aliada ao "deixa andar" impedem que se façam pequenas maravilhas pessoais, que nos coloquem sorrisos no rosto e que nos encham o ego (no bom sentido) de orgulho pela tarefa concluída. 

Quero escrever mais e muito mais este ano e dar-vos conta do que vou fazendo. Quero ler muito mais e divulgar-vos a minha opinião sobre o que leio. 

Mas, sobretudo, gostaria de chegar ao final de 2022 com um sorriso de orelha a orelha, com mais seguidores neste espaço e que todos contribuam para que o mesmo se concretize num momento agradável durante uma pequena pausa ao longo do dia, ou da noite. 

Desejo-vos um Ano cheio de tudo o que mais desejarem. 

Hermann Hesse referiu um dia:

"(…) Existem, para cada falante, as palavras que lhe são favoritas e as que são estranhas, as preferidas e as evitadas, as quotidianas, mil vezes utilizadas sem nelas recearmos um desgaste, e outras, festivas, que por muito que lhes tenhamos amor, apenas empregamos com grande ponderação e parcimónia, dizêmo-las e escrevêmo-las com a raridade e criteriosa selecção apropriadas ao seu carácter festivo. Entre estas conta-se, para mim, a palavra 'felicidade'.(…)"

"Quando as pessoas mais velhas tentam recordar-se da altura das suas vidas, da frequência e da intensidade com que sentiram felicidade, procuram sobretudo a infância, e com razão, pois para uma vivência plena de felicidade é necessário antes de mais estar livre dos constrangimentos do tempo, e bem assim, dos impostos pelo temor e pela esperança, e esta é a capacidade que a maioria das pessoas vai perdendo com a passagem dos anos."

(excerto do livro "Da felicidade" de Hermann Hesse)

Por favor, não deixem que o passar dos anos vos apague esta capacidade de ver as coisas belas que vos rodeiam e com elas possam ser felizes.

Até breve




ilustração de Amanda Cass