terça-feira, 12 de maio de 2020

As Mulheres do meu Pai de José Eduardo Agualusa

Sinopse 

Faustino Manso, famoso compositor angolano, deixou ao morrer sete viúvas e dezoito filhos. A filha mais nova, Laurentina, realizadora de cinema tenta reconstruir a atribulada vida do falecido músico. 

Em As Mulheres do Meu Pai, realidade e ficção correm lado a lado, a primeira alimentando a segunda. Nos territórios que José Eduardo Agualusa atravessa, porém, a ficção participa da realidade. As quatro personagens do romance que o autor escreve, enquanto viaja, vão com ele de Luanda, capital de Angola, até Benguela e Namibe. Cruzam as areias da Namíbia e as suas povoações-fantasma, alcançando finalmente Cape Town, na África do Sul. 

Continuam depois, rumo a Maputo, e de Maputo a Quelimane, junto ao rio dos Bons Sinais, e dali até à ilha de Moçambique. Percorrem, nesta deriva, paisagens que fazem fronteira com o sonho, e das quais emergem, aqui e ali, as mais estranhas personagens. 

As Mulheres do Meu Pai é um romance sobre mulheres, música e magia. Nestas páginas anuncia-se o renascimento de África, continente afectado por problemas terríveis, mas abençoado pelo talento da música, o sempre renovado vigor das mulheres e o secreto poder de deuses muito antigos. 






Estava com bastante curiosidade em ler este livro de José Eduardo Agualusa, porque me tinham dado boas referências sobre ele e porque percebi que se tratava, de certa forma, de um livro de viagens pelo continente africano. 

Não posso dizer que o livro superou as minhas expectativas, antes pelo contrário. Ou eram demasiado altas ou faltou mais qualquer coisa para que ficasse com aquela sensação de ter lido um livro que me deixou encantada. 

África diz-me muito, porque já andei por lá, mais precisamente por Moçambique. Não sou natural desse país fantástico, mas vivi lá cinco anos (de 1972 a 1977) que me deixaram marcados na alma toda a imensidão das paisagens, dos sons, dos cheiros, da vida e das cores de África. 

Mas voltando ao livro de Agualusa, este conta-nos a história de Faustino Manso, um musico angolano que viaja pelo continente africano, levando a sua música e amando mulheres em cada cidade por onde passa. A história é-nos contada por Laurentina que parte em busca da vida deste homem, ao receber uma carta da sua mãe, quando esta morre, em que lhe conta que os seus pais biológicos não são os que a criaram em toda a vida, mas sim que ela é filha de Faustino Manso. 

Com esta noticia, ela decide partir para Angola, para descobrir algo mais sobre este homem, sobre a sua mãe verdadeira e no fundo sobre si mesma. Descobre que Manso acabou de morrer, deixando sete mulheres e dezoito filhos. Decide filmar um documentário sobre a vida do musico e reconstruir assim toda a sua vida. 

Desta forma o livro leva-nos através de Angola, África do Sul e Moçambique acompanhando as personagens de Laurentina, Mandume, o seu namorado, Bartolomeu, um primo recém conhecido e Pouca Sorte, o motorista que os conduz através deste continente. 

Cada capítulo é descrito por estas personagens diferentemente, falando das suas emoções e das suas sensações, levando-nos a conhecê-los mais intimamente e a perceber que todos eles procuram também perceber quem são neste mundo, tantas vezes ingrato e ruim. 

As relações que se estabelecem entre os vários personagens e o que vão descobrindo por onde passam, bem como o auto-conhecimento de cada um, constituem, na minha opinião o fio condutor de toda a história. 

O que gostei? Das auto-descobertas das personagens enquanto seres humanos, com os seus defeitos e virtudes e segredos. 

O que poderia ter sido melhor e que me deixou desanimada? Acho que a viagem podia ser muito mais bem explorada, podiam ter sido mais descritivas as rotas, a paisagem, a imensidão e beleza desse continente e haver maior continuidade e ligação na história. 

Faltou algo mais, na minha opinião é claro, para não me dar a sensação de que o livro são um conjunto de depoimentos soltos de várias personagens, que viajam por África para recolher elementos para um documentário sobre a vida do músico.

O final surpreende o que dá uma reviravolta positiva à história, mas logo a seguir tudo fica assim….

Talvez eu quisesse mais, no entanto está bem escrito e por isso dou 3,5 o que passa a 4 estrelas, pela escrita e pelo final.





segunda-feira, 13 de abril de 2020

Memórias de um gato viajante de Hiro Arikawa




Sinopse


Nana, que já foi um gato de rua, anda em viagem pelo Japão, mas desconhece para onde. O importante é que está sentado no banco da frente da carrinha, ao lado de Satoru, o seu querido dono. Satoru decidiu empreender esta viagem para visitar três amigos de juventude.

Qual o motivo da viagem? Nana não sabe.
Como reagirá o seu coração quando descobrir?

Com o pano de fundo da deslumbrante paisagem japonesa e narrado em vozes alternadas com uma rara subtileza e sentido de humor, a história de Nana é sobre a solidão, o valor da amizade e o saber dar e receber.

Um livro que tem conquistado e emocionado leitores de todo o mundo através da sua mensagem de bondade e sinceridade, revelando como os atos de amor podem transformar as nossas vidas. Por vezes, é necessário fazermos uma longa viagem para descobrirmos e conhecermos melhor aqueles que estão mais perto de nós.




Opinião

Quando descobri este livro à venda, pensei logo em adquiri-lo, por vários motivos : pelo Japão (país que me fascina), pela viagem (gosto imenso de livros sobre viagens) e sobretudo pelo facto de ser a história de um gato que viaja pelo Japão e que vai comentando sobre o que vê, quer na paisagem por onde passa, quer nos sentimentos das pessoas que vai conhecendo.

É claro que uma boa amiga pensou o mesmo que eu, assim que o viu pensou que era a prenda ideal para me oferecer no Natal … (obrigada ) 

Pois bem, quando o comecei a ler, confesso que fiquei um pouco desapontada, talvez porque tinha as minhas expectativas muito altas. A escrita é bastante simples, o que proporciona uma leitura “fácil” e a historia que se desenrolava diante dos meus olhos nada tinha de especial, um homem jovem que tem um gato, apanhado da rua, e que resolve viajar (por um motivo que, inicialmente, não se sabe qual é ) e leva o gato consigo.

A narrativa desenvolve-se através de dois narradores, um na terceira pessoa que vai contando os acontecimentos e o desenvolvimento da viagem e e o outro na primeira pessoa, ou seja do ponto de vista do gato, onde este comenta sobre o relacionamento humano-gato. Um gato bastante observador e humorista, o que torna a narrativa divertida.

Assim, vamos lendo página a página, sorrindo pelas expressões e opiniões de Nana e rapidamente percebemos que, por detrás desta narrativa simples e divertida, há muito mais.

Os sentimentos de amizade que ligam os jovens na escola, no secundário, na faculdade e que perduram para toda a vida, as marcas, boas e más, que a vida nos vai deixando e que vão contribuir para a nossa formação e o nosso carácter enquanto adultos são tudo facetas presentes nestas páginas.

A pouco e pouco vamos começando a perceber o porquê desta viagem, e o que move Satoru e Nana pelas terras do Japão, e o final chega de uma forma dura e comovente, como a demonstração do verdadeiro sentido da amizade.

E se no inicio me sentia um pouco desapontada como já referi, mas página a página Hiro Arikawa conquistou-me, levando-me a pensar, a querer ler mais e sentir que há muito que não lia um livro tão comovente.

Recomendo a qualquer leitor e imprescindível para quem gosta de gatos, para quem, como eu, gosta de perceber o que estes felinos pensam e sentem em relação à alma humana, ao valor da amizade dono-gato.