Sinopse
Jornalista de profissão e escritor nas horas vagas, Adriano descobre-se, de repente, na meia-idade. A vida não passa de um jogo extremamente cruel e ele dá consigo "sentado à beira da água opaca, a fumar o cachimbo e a morder um caule de erva que sabia a fénico"… O resultado do choque é um suicídio frustrado e uma fuga, sem esperança para Macau.
Em Macau, descobre um passado de que nunca suspeitara e descobre também a angústia sorridente da próxima reintegração na China. Mas a "pérola do Oriente" reserva-lhe uma outra surpresa: mergulhado brutalmente numa intriga que já fez vários mortos, Adriano é obrigado a esquecer as reflexões pessimistas sobre a vida e o mundo, para ceder ao instinto primitivo de lutar pela sua própria sobrevivência.
Confesso, o que para muitos já não é novidade, que gosto bastante de ler João Aguiar. O que tenho lido deste autor torna-se sempre uma agradável surpresa. Por mais que conheça o seu estilo e muitos dos seus livros, acabo por ser surpreendida cada vez que começo a ler um. Não sendo esta uma das suas obras mais destacadas e conhecidas, constituiu uma leitura simples mas agradável, que nos agarra ao longo de toda a história.
Desta vez “Os comedores de pérolas”, escrito em 1992, levam-nos até Macau, nas vésperas da transferência da administração portuguesa para a China. Este território que muitos apelidavam de “a pérola” do oriente, é aqui comparado à anedota histórica da Cleópatra em que esta dissolveu em vinagre uma pérola e depois bebeu esta mistura para provar a Marco António que era mais gastadora do que ele. Aqui a alegoria visa recordar-nos da ausência de esforço por parte dos nossos governantes em salvaguardar esta pérola através dos tempos, acabando por nos termos convertido em “comedores de pérolas” imitando a rainha egípcia.
A escrita é-nos apresentada em forma de diário onde Adriano, tal como o próprio autor, jornalista e romancista, nos vai dando a conhecer, todo o desenrolar de uma investigação, aparentemente simples, mas que se revela um poço de segredos incómodos para muitos.
A recuperar de um esgotamento, chega a Macau para investigar o espólio do comendador Wang Wu, que viveu no século XIX. Com o desenrolar do estudo, verifica-se que Wang Wu e a sua esposa não eram quem se pensava. A investigação paga pelo neto de Wang Wu, um milionário que vive em Hong Kong, acaba por se revelar um jogo de interesses em que Adriano vai descobrindo a mesquinhez da alma humana num sonho oriental.
Um verdadeiro cenário de intriga policial que nos mantém presos até ao fim, à espera da resolução de todos os enigmas.
Este é o primeiro volume de uma trilogia, que se segue com “O Dragão de Fumo” e “A Catedral Verde”. No entanto qualquer um deles pode ser lido isoladamente. Todos os três livros contam episódios da vida de Adriano Correia e passam-se todos em Macau, em épocas distintas.